A “escondida” mas curável incontinência urinária

2 de Agosto 2021

Mário Rodrigues Urologista e Coordenador Clínico da Unidade de Urologia do HCV

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A “escondida” mas curável incontinência urinária

02/08/2021 | Hospital cruz vermelha

Se definirmos a Incontinência Urinária (IU) como pelo menos um episódio de perda de urina nos últimos 12 meses, ela ocorre em até 69% das mulheres e até 39% dos homens. Em Portugal, segundo a Associação Portuguesa de Urologia, estima-se a existência de 600 mil pessoas com Incontinência Urinária nas várias faixas etárias.

Definida como uma qualquer perda involuntária de urina pela uretra, esta é uma condição benigna mas que pode diminuir muito significativamente a qualidade de vida, caso não tenha o diagnóstico e tratamento adequados. A IU tem, como principais fatores que não só podem originar, como agravar, a gravidez, parto por via vaginal, obesidade, falta de estrogénios, diabetes mellitus, perda de capacidade cognitiva e demência. Pelo contrário, o tabaco, dieta, depressão, infeções urinárias e exercício físico não são fatores de risco.

Os dois tipos mais frequentes são a IU de esforço e a IU por urgência miccional, que podem ocorrer de forma isolada ou em simultâneo. A IU de esforço é provocada por tosse, espirros, esforços, levantamento de peso, enquanto na IU por urgência miccional existe vontade súbita de urinar mas não há tempo para chegar ao local apropriado.

Apesar de existirem vários tratamentos, a pessoa vive, a maior parte do tempo , envergonhado, com medo de ter perdas de urina e que estas sejam notadas. Assim, evita sair de casa ou realizar atividades que podem desencadear as perdas, evita falar com a família e amigos sobre isso e até esconde o problema do seu médico de família.

No entanto, os tratamentos atuais permitem resolver o problema. A fisioterapia tem bons resultados e continua a ser o tratamento de primeira linha nos casos de IU de esforço ligeira e os exercícios de Kegel podem ser realizados pela pessoa sem necessidade de assistência. Consistem em contrações dos músculos do pavimento pélvico com a intenção de evitar uma eventual micção ou dejeção. Devem de ser fortes e mantidas o máximo de tempo possível, com uma breve pausa entre elas.

Os cones vaginais, a reabilitação perineal ou reeducação pélvica, que consiste num programa de exercícios complementados com a utilização de dispositivos especificamente concebidos para o efeito são outras alternativas que visam o reforço e reabilitação dos músculos pélvicos. A inovação tecnológica surgiu exatamente nesta ultima área de intervenção. A indução magnética para a estimulação dos músculos do pavimento pélvico permite a reabilitação do esfíncter urinário e anal de forma não invasiva. Com seis a oito sessões de tratamento de 30 minutos cada, duas vezes por semana, conseguem-se resultados que são encorajadores, nomeadamente a melhoria no controle dos esfíncteres.

Por ultimo, a técnica e equipamentos de biofeedback, ensina e demostra a utilização da contração dos grupos musculares corretos e ideais para o controlo e melhoria das queixas de IU, enquanto a electroestimulação promove o fortalecimento da musculatura do pavimento pélvico através de contrações induzidas eletricamente por intermédio de elétrodos colocados na pele da região do períneo.

Existe, também, a opção de recorrer a medicamentos mas, antes do tratamento aconselha-se a realização dos exames complementares de diagnóstico mais relevantes, tais como o estudo urodinâmico e a cistoscopia. O primeiro é um estudo funcional do aparelho urinário baixo, que na mulher consiste na bexiga, na uretra e nas suas estruturas envolventes. Tem particular importância na determinação da causa da IU e na definição do tipo de terapêutica e expetativas com o tratamento. É um exame demorado (cerca de 30 a 60 minutos) e invasivo, pois é necessário a introdução de um sonda na bexiga e de uma sonda retal mas permite-nos compreender o funcionamento e resposta da bexiga.

Por seu turno, a cistoscopia permite a observação do interior da uretra e da bexiga através da introdução de um aparelho endoscópico pela uretra. Está indicada na presença de sangue na urina, sintomas relacionados com o enchimento da bexiga ou outras patologias associadas. Uma grande proporção dos doentes com IU conseguem atingir a cura quando devidamente tratados, havendo a possibilidade de melhorias muito significativas para os restantes.

 

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