Pelas 09:30, a sinalização indicava que o parque subterrâneo das Portas do Mar, em Ponta Delgada, estava completo, algo pouco habitual num dia de semana.
Em frente ao Pavilhão do Mar, o maior centro de vacinação contra a Covid-19 da ilha de São Miguel, várias pessoas formavam duas longas filas: uma destinada às marcações, outra para os utentes sem agendamento.
A “Casa Aberta” só abriu às 10:00, mas antes daquela hora já várias pessoas aguardavam a vez para a modalidade que permite vacinar contra a Covid-19 todos os residentes de São Miguel com idade igual ou superior a 18 anos, mesmo sem marcação.
“Não tinha sido chamada para receber a vacina. Vi no jornal que era vacinação aberta. Decidi vir para não perder mais tempo, mas já estava à espera dessa quantidade de pessoas”, disse Ana Almeida, de 20 anos, em declarações à Lusa enquanto esperava na fila.
Atrás dela, aguardava João Botelho, de 22 anos, que “esperava encontrar muita gente” no posto de vacinação, uma vez que “muita gente não foi chamada” para receber a vacina.
Diz que foi o seu caso: inscreveu-se no portal da vacinação online, mas não chegou a ser contactado.
“É uma boa ideia permitir a vacinação sem inscrição porque nem toda a gente foi chamada, mesmo passando a sua idade. Conheço gente mais nova do que eu que foi chamada e eu nunca fui”, afirmou.
Enquanto aguardam na fila, as pessoas vão preenchendo os formulários obrigatórios distribuídos pelos funcionários da Unidade de Saúde de ilha de São Miguel (USISM).
Na fila destinada à modalidade ‘Casa Aberta’, estavam, durante a manhã de hoje, sobretudo jovens abaixo dos 25 anos.
Exceção foi um homem de 53 anos (que não quis revelar a identidade), que disse nunca ter sido contactado para receber qualquer dose da vacina contra a Covid-19.
“A maior parte das pessoas com 50 e tal anos já levaram [a vacina]. A mim nunca me chamaram. No centro de saúde disseram que não eram nada com eles. Tentei inscrever-me no site, mas aquilo não está funcionando”, declarou.
O homem diz não perceber porque não foi chamado, até porque tem “todos os dados, como o contacto e a morada” registados no centro de saúde de Ponta Delgada, uma vez que já teve médico de família (o médico, entretanto, “foi-se embora” e não lhe foi atribuído outro).
“Decidi vir aqui diretamente para não estar com mais contactos. Se esperar, morro e ainda fico à espera do telefonema”, observou.
Com o passar dos minutos, chega cada vez mais gente e as filas de espera vão aumentando, com as pessoas a manter o distanciamento físico enquanto aguardam.
Inês Garrafa, de 22 anos, colocou-se na primeira fila que viu quando chegou ao local, destinada à modalidade ‘Casa Aberta’. Depois da conversa com a Lusa, percebeu que estava no sítio errado.
“Cheguei, vi esta fila e pensei que era aqui. Não estava à espera de ver essa afluência toda. Tenho agendamento. Ligaram-me para levar a vacina”, diz, antes de se dirigir à parte norte do exterior do pavilhão, destinado às pessoas com marcação.
A sair estava Joana Pavão, de 22 anos, que tinha recebido há 30 minutos a primeira dose da vacina contra a Covid-19, por agendamento.
“Não escolhi a vacina, recebi a Pfizer. Não tive qualquer sintoma. O processo foi rápido, correu bem, fui bem atendida, está tudo organizado, nada a apontar”, disse.
Também João Amorim, de 19 anos, recebeu a inoculação hoje.
“Já estou despachado. Demorou meia hora, se tanto. A fila é grande, mas anda rápido. Já vamos com o questionário feito. Lá dentro, está tudo bem organizado. Levamos a vacina, esperamos meia hora e está feito”, apontou.
Segundo afirmou à agência Lusa, no local, o presidente do conselho de administração da USISM, Pedro Santos, está previsto serem vacinadas diariamente naquele centro de vacinação cerca de duas mil pessoas: mil com marcação e mil sem marcação.
“As expectativas estão a decorrer dentro daquilo que esperávamos. Está a correr bem, com boa afluência. Neste momento, nem está a haver aglomerados, a população está a aderir de uma forma pacífica e correta, obedecendo às regras”, afirmou.
Pedro Santos considerou que a “afluência está dentro do expectável” e destacou que o modo ‘Casa Aberta’ permite minimizar as “dificuldades” sentidas pela USISM em contactar com as pessoas acima dos 18 anos.
“Estamos num processo de agendamento com pessoas maiores de 18 anos, ou seja, estamos nessas faixas etárias no agendamento. No contacto das pessoas para agendar, estamos a ter uma taxa de sucesso de apenas de 50%”, afirmou.
Para Pedro Santos, a baixa taxa de sucesso “significa que 50% das pessoas ou não atendem ou têm o contacto desatualizado”, o que “dificulta o agendamento”.
O “esforço” da USISM para vacinar duas mil pessoas por dia vai ser suportado por 120 profissionais, entre enfermeiros, médicos e assistentes operacionais e técnicos.
LUSA/HN
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