“Foram centenas de pessoas vacinadas com estas doses que estavam alteradas porque não se cumpriu a cadeia de frio”, disse à Lusa fonte da comissão interministerial de vacinação contra a Covid-19.
O incidente foi descoberto em junho pelas autoridades, mas só veio a público na última semana, depois de denúncias, incluindo pelo maior partido da oposição, o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT).
“A informação foi escondida inicialmente, mas depois já foram feitos relatórios para o Ministério da Saúde com recomendações”, disse a fonte da comissão interministerial.
A presidente do Conselho Técnico Nacional de Imunização de Timor-Leste (NITAG-TL) explicou à Lusa que quando soube do incidente convocou uma reunião técnica, que decorreu a 24 de junho, para analisar o problema.
“Reunimos os membros do NITAG, representantes e especialistas da OMS e da UNICEF para analisar a questão da cadeia de frio da AstraZeneca e o problema no HNGV”, explicou Célia Gusmão hoje à Lusa.
“Chegámos à conclusão de que durante cinco dias seguidos as doses da vacina tinham estado a uma temperatura de -10 graus, o que é mais baixa do que a adequada para a AstraZeneca, que é de -3 graus”, explicou.
Recordando que a vacina é “muito sensível à temperatura”, Gusmão explicou que essas doses são consideradas “inválidas”, motivo pelo qual o NITAG recomendou ao Ministério da Saúde que voltasse a vacinar as pessoas que tinham sido inoculadas.
“Pelo que sei a maioria das pessoas não foram novamente vacinadas ainda. Algumas pessoas souberam disso na semana passada e alguns foram receber a sua inoculação no fim de semana”, referiu.
Odete Belo, ministra da Saúde, disse à Lusa que o Ministério da Saúde ainda está a recolher dados sobre o incidente, tanto no que toca à questão da cadeia de frio como ao número de doses afetadas.
“É um problema que temos que resolver. Queremos confirmar todos os dados para ter a certeza”, explicou, referindo que está a ser preparado um relatório para o primeiro-ministro, a entregar nos próximos dias, sobre o caso.
Numa publicação na sua página na rede social Facebook, o CNRT acusa o Governo de “incompetência na gestão” da vacinação e da resposta à Covid-19, lamentando que o assunto só tenha vindo a público mais de um mês depois do incidente.
“O incidente ocorreu quando falhou a eletricidade na farmácia do HNGV e as vacinas foram colocadas num congelador, sendo danificadas. Apesar disso pessoal de saúde e a população continuaram a ser vacinados com essas doses entre 10 e 14 de julho”, referiu o CNRT.
“O incidente mostra claramente que o Governo não tem capacidade para gerir as vacinas”, acrescentou.
Questionada sobre a demora na decisão sobre revacinar as pessoas que receberam estas doses alteradas, Odete Belo explicou que todos os dados estavam a ser recolhidos.
Não foi possível confirmar o total de pessoas inoculadas com estas doses alteradas.
LUSA/HN
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