“O pensamento do Papa dirige-se em primeiro lugar às vítimas, com imensa dor pelas feridas e gratidão pela coragem de denunciar. Dirige-se também à Igreja da França, para que, ao tomarem consciência desta terrível realidade (…) possa empreender o caminho da redenção”, declarou o porta-voz do Vaticano, Matteo Brun aos jornalistas acerca da reação do papa ao relatório.
Também hoje, o episcopado francês expressou “vergonha” e pediu “perdão” às vítimas de crimes de pedofilia, após a divulgação de um relatório que revela que mais de 300 mil menores foram abusados pela Igreja Católica francesa durante 70 anos.
Elaborado por uma comissão independente e hoje apresentado em Paris, o relatório concluiu que mais de 300 mil menores foram abusados e agredidos em instituições da Igreja Católica francesa, responsabilizando diretamente clérigos e religiosos por 216 mil vítimas, entre 1950 e 2020.
“O meu desejo neste dia é pedir o vosso perdão, o perdão de cada um de vós”, disse o bispo Eric de Moulins-Beaufort, presidente da Conferência Episcopal Francesa.
De acordo com o relatório, cerca de 216 mil crianças ou adolescentes foram abusados ou agredidos sexualmente por clérigos católicos ou religiosos.
O número de vítimas sobe para 330 mil quando considerados “agressores leigos que trabalham em instituições da Igreja Católica”, nomeadamente nas capelanias, professores nas escolas católicas ou em movimentos juvenis, segundo o presidente da Comissão Independente sobre os Abusos da Igreja (Ciase, na sigla em francês), Jean-Marc Sauvé, durante a apresentação do relatório à imprensa.
“Estes números são mais do que preocupantes, são condenáveis e não podem de forma alguma ser ignorados”, disse Jean-Marc Sauvé, explicando que a estimativa revelou que cerca de 80% são vítimas masculinas.
“As consequências são muito graves”, disse Sauvé, adiantando que “cerca de 60% dos homens e mulheres que foram abusados sexualmente revelam grandes problemas na sua vida sentimental ou sexual”.
O relatório de 2.500 páginas identifica cerca de 3.000 abusadores – dois terços dos quais padres – que trabalharam na igreja francesa durante este período.
Para a comissão, as conclusões do relatório revelam um fenómeno de “natureza sistémica”, cuja responsabilidade a Igreja Católica deve reconhecer, assegurando “reparação” financeira para todas as vítimas.
De acordo com Sauvé, há 22 alegados crimes que ainda não prescreveram e foram encaminhados para as autoridades judiciais.
Mais de 40 casos demasiado antigos para serem processados, mas que envolvem suspeitas sobre abusadores ainda vivos, foram encaminhados para análise dentro da própria Igreja.
Olivier Savignac, líder da associação de vítimas “Parler et Revivre”, que contribuiu para a investigação, sublinhou, que a elevada proporção de vítimas por agressor é particularmente “aterradora para a sociedade francesa e para a Igreja Católica”.
O relatório surge depois do escândalo que envolveu o agora ex-padre Bernard Preynat, condenado, no ano passado, por abuso sexual a uma pena de prisão de cinco anos, por ter abusado de mais de 75 rapazes durante décadas.
LUSA/HN
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