No artigo, hoje publicado no jornal Público e assinados pelos bastonários das ordens dos nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos, biólogos, médicos e dentistas, os responsáveis defendem que só com este levantamento “rigoroso” se poderá traçar um plano de ação “claro e objetivo” para recuperar dos atrasos impostos pela pandemia.
Além da importância de conhecer os atrasos na assistência médica aos portugueses, querem que sejam igualmente conhecidos os défices materiais organizacionais do sistema e as reais carências.
Dizem que só assim se consegue programar um plano de resposta com vista à recuperação da assistência aos portugueses e à criação de condições “que permitam enfrentar com tranquilidade os desafios futuros do setor da saúde”.
“A reestruturação e o robustecimento do sistema de Saúde devem ser considerados objetivos de prioridade máxima tendo em vista o seu financiamento no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, de forma a garantir o acesso de todos os portugueses a cuidados de saúde integrais e de qualidade, bem como a plena resposta às suas reais necessidades”, escrevem.
Os bastonários dizem-se “exaustos após quase dois anos de luta contra a pandemia da covid-19, inquietos com o atraso acumulado na resposta às demais patologias e preocupados com a ausência de uma estratégia robusta e coerente que permita enfrentar os problemas e os défices crónicos do sistema de saúde”.
No artigo hoje divulgado, consideram que a recuperação dos atrasos existentes “não pode nem deve ignorar a necessidade de uma estratégia clara de consolidação do sistema”, cuidando, desde já, de aspetos que consideram essenciais, como “a aposta na prevenção, na assistência de proximidade e na promoção de estilos de vida mais saudáveis”.
Defendem que a definição de uma estratégia “clara e integrada” para a Saúde deve “dar prioridade à investigação e à inovação, à redução da burocracia e à adoção de métodos de gestão modernos e eficientes, que explorem as virtualidades da digitalização, beneficiem a sustentabilidade do sistema e subordinem o financiamento à produtividade e aos resultados alcançados”.
Lembram que as necessidades e contingências do combate à pandemia “produziram efeitos que não podem ser ignorados”, apontando os milhões de consultas, exames e tratamentos que ficaram por fazer, “agravando de forma substancial a saúde dos portugueses e o bem-estar da população”.
“Se o país não estava bem antes da pandemia, agora está pior”, consideram.
Apontam o caso dos centros de saúde, com as consultas médicas presenciais de janeiro a agosto deste ano a chegarem aos 9.231.586, ou seja, abaixo do mesmo período de 2019 (13.751.700).
“Isto significa que não estamos sequer a níveis pré-pandemia, quanto mais recuperar”, sublinham.
Nos meios complementares de diagnóstico, dão como exemplo a área da oncologia: “comparando janeiro a agosto de 2019 com os dados do mesmo período de 2021, temos menos 101.821 mulheres com mamografia registada nos últimos dois anos e menos 151.110 com colpocitologia”.
“O risco é evidente”, insistem.
Os bastonários recordam igualmente, neste artigo, que o confinamento, isolamento e a redução dos contactos sociais tiveram também como consequência o aumento dos problemas de saúde mental, a que acrescem as patologias relacionadas com as sequelas físicas de longo prazo provocadas pela Covid-19 em milhares de doentes recuperados.
“Os profissionais de saúde a quem cabe dar resposta a estes atrasos estão exaustos, padecem também eles de doença mental e fadiga pandémica, e enfrentam frequentemente condições de trabalho marcadas por inúmeras carências, pela desorganização e pela falta de investimento em setores fundamentais, como a saúde mental, a saúde oral, a saúde nutricional e assistência farmacológica”, acrescentam.
Dizem que “não há mais tempo a perder”, que as necessidades estão identificadas e que os portugueses “exigem que a Saúde seja assumida de uma vez por todas como área fundamental”.
“É preciso recuperar a saúde, já”, escrevem.
LUSA/HN
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