A oxigenoterapia consiste numa intervenção terapêutica que tem como objectivo a quantidade de oxigénio no sangue arterial pela via do aumento da concentração de oxigénio no ar inspirado.
O oxigénio, como elemento químico, foi descoberto, de forma independente, por Carl Wilhelm Scheele (1771), Joseph Priestley (1774) e Antoine Lavoisier (1775) e rapidamente foi reconhecida a sua aplicabilidade em doentes respiratórios, culminando na abertura do Instituto Pneumático de Bristol, Inglaterra, em 1798, infelizmente encerrando precocemente ao fim de três anos devido à epidemia da febre tifóide.
Durante o século XX foram realizadas algumas intervenções, embora tímidas, em várias áreas clínicas. Somente no início do Séc. XX, com os avanços de Carl von Linde (1842–1934) a 27 de Fevereiro de 1902 (figura 1), que registou a patente sobre o processo de separar o oxigénio do ar atmosférico. Rapidamente atingiu a capacidade de produzir 28 m3 por hora. Assim, o oxigénio tornou-se um produto fornecido aos hospitais e indústrias, no entanto a sua aplicação concreta e benefícios sob a forma de oxigenoterapia de longa duração (OLD) apenas começou a dar resultados publicados na década de 60 do Séc.XX e mais tarde estudos randomizados, como o estudo norte-americano NOTT (1980) e o britânico MRC (1981) vieram demonstrar, entre outros dados, que a OLD:
- Melhora o prognóstico funcional e vital dos doentes hipoxémicos com DPOC
- Existe uma relação proporcional nos resultados de acordo com o número de horas de terapia. A sobrevida num doente que faz OLD durante 18h por dia é estatisticamente superior num doente que faz OLD durante 12h.
É importante que os doentes façam a OLD durante o maior número de horas por dia, no entanto, as fontes fixas de oxigénio domiciliário (garrafa e concentrador) são limitativas para os doentes com capacidade de deambulação e/ou com uma vida ativa. Esta terapia tem que ser o mais confortável e conveniente para o doente para conseguirmos um maior número de horas de terapia e assim obter os resultados clínicos já amplamente demonstrados, além de que permite que o doente não fique socialmente isolado.
Em Portugal, a Direcção Geral de Saúde determina indicações específicas quer para a OLD quer para a OLD em deambulação, na sua norma de orientação clínica n.º 018/2011 e as principais fontes para a OLD identificadas são o concentrador (fixa) e o concentrador portátil. Estes dispositivos permitem a separação do oxigénio do ar atmosférico, sendo que os portáteis possuem baterias que permitem deambular com o dispositivo, quer pela sua autonomia, quer pelo seu baixo peso. Em alternativa ainda existem os reservatórios fixos de oxigénio na forma líquida, utilizado em casos de débitos altos e que possuem mochilas para transportar o oxigénio líquido e realizar a terapia durante a deambulação, no entanto, tem algumas desvantagens quando comparado com o concentrador portátil, de realçar os riscos de segurança no seu enchimento e a perda de oxigénio por evaporação, o que pode gerar alguma ansiedade nos doentes. Por outro lado, o concentrador portátil, tem duas limitações: primeiro, os débitos são limitados, não permitindo valores elevados e segundo, a autonomia, depende do débito e da frequência respiratória, que quanto mais altos, menor a autonomia. No entanto, é expectável que esta tecnologia evolua nos próximos anos dada a sua relevância no impacto na evolução clínica da DPOC.
A tecnologia não é fator isolado para um melhor adesão por parte do doente. É necessário comunicar estes benefícios da utilização diária para obter os benefícios a nível respiratório, cardiovascular e hematológico. Por um lado através das orientações concretas relativamente à fonte, débito (l/min.) e n.º de horas por dia, de acordo com a prescrição médica, por outro pelo acompanhamento, suporte e educação do doente pelos vários intervenientes: médico e o prestador de cuidadores respiratórios domiciliários que fornece a terapia.
Embora sendo uma terapia com mais de 40 anos, é inegável o seu impacto e valor no tratamento dos doentes com DPOC. A OLD tem indicações específicas e por razões clínicas pode não ser possível utilizar em todos os doentes com DPOC e requer sempre avaliação e prescrição médica.
João Pereira, Product & Business Development Manager da Linde Saúde.
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