“Naturalmente que saudamos este reforço, mas não podemos deixar de dizer que este montante corresponde basicamente à dívida vencida do Serviço Nacional de Saúde”, disse à Lusa Xavier Barreto, da direção da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH).
Segundo avançou ontem o Ministério da Saúde, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) vai ser reforçado com mais 745 milhões de euros, “tendo em vista a redução da dívida e o aumento da sua capacidade de resposta e de produção”.
Deste valor total, 630 milhões de euros destinam-se aos hospitais e 115 milhões às Administrações Regionais de Saúde (ARS), explicou o Ministério liderado por Marta Temido, ao recordar que, em agosto, já tinham sido destinados ao SNS mais 350 milhões de euros, elevando para mais de mil milhões de euros o reforço financeiro este ano.
“Este reforço surge num ano de grande esforço financeiro resultante da pandemia de covid-19, nomeadamente na recuperação da atividade assistencial – até outubro tinham sido realizadas quase 30 milhões de consultas médicas em cuidados de saúde primários e 590 mil cirurgias, os valores mais elevados de sempre, e mais de 10 milhões de consultas hospitalares -, no financiamento de testes de deteção da covid-19 ou no esforço adicional de vacinação”, referiu o Ministério em comunicado.
Para Xavier Barreto, uma vez que o montante destinado aos hospitais será para o pagamento de dívida vencida, o reforço previsto não se destina a “capitalizar as unidades de saúde ou dar margem para investimentos”.
“Se olharmos para os contratos dos hospitais, são assinados no início de cada ano e praticamente já assumem, à partida, que vão ter resultados operacionais negativos, que vão ter prejuízo”, que se repercute na dívida, referiu o administrador hospitalar.
Segundo disse, face a este desequilíbrio entre proveitos e custos, faria sentido disponibilizar aos hospitais os recursos que de facto necessitam no início de cada ano, “para não acumularem dívida e para terem mais margem [negocial] com fornecedores”.
“Este ano ainda foi mais grave, porque como os hospitais estão a trabalhar muito mais para recuperar atividade programada que ficou atrasada durante estes meses de covid-19 – em muitos casos estão a trabalhar 10% e 20% acima da produção habitual – tiveram mais consumos e acumularam mais dívida”, salientou Xavier Barreto.
LUSA/HN
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