Com o objetivo de avaliar como foi a prática religiosa e a experiência digital durante a pandemia, Clara Almeida Santos (da Universidade de Coimbra) e Margarida Franca (do Instituto Politécnico de Leiria) realizaram um inquérito à população católica portuguesa com mais de 15 anos, em junho e julho.
Clara Almeida Santos e Margarida Franca consideraram que “a pandemia declarada em março de 2020 não apanhou a Igreja Católica desprevenida no que diz respeito à disponibilização de ferramentas digitais, de diversos tipos, para apoiar e complementar a experiência religiosa e espiritual”.
“Entre o primeiro e o segundo confinamento, as paróquias/comunidades estruturaram-se e capacitaram-se, assumindo-se como fonte privilegiada para obtenção dos conteúdos digitais por parte dos seus fiéis”, referiram.
Das pessoas que responderam ao inquérito, 70% “revelaram assistir telematicamente à celebração da missa uma ou mais vezes por semana, sendo o YouTube a plataforma mais utilizada”.
“A maioria dos inquiridos afirmou ainda assistir à celebração da missa em família, preservando assim o caráter coletivo e comunitário das práticas religiosas”, acrescentaram.
No entanto, de acordo com Clara Almeida Santos e Margarida Franca, o inquérito mostrou que houve “cansaço pandémico” no segundo confinamento, com menos pessoas a verem as celebrações e a fazê-lo mais vezes sozinhas.
Os resultados indicaram que se registou também “uma menor procura de conteúdos ‘online’, sobretudo de aplicações para oração”, havendo entre os inquiridos “a perceção de uma experiência menos intensa no segundo confinamento”.
“Apesar de ter aumentado o recurso a meios digitais por força da pandemia, a percentagem de pessoas que manifestam intenção de continuar a utilizá-los é consistente com a percentagem de pessoas que já assumiam essa utilização anteriormente”, adiantaram, acrescentando que “existe, inclusivamente, um decréscimo da vontade expressa de manter a experiência religiosa digital entre os 15 e os 24 anos”.
Ou seja, por um lado, “a pandemia levou a que pessoas que não utilizam recursos digitais passassem a contar utilizá-los no futuro” e, por outro, “a que pessoas que se serviam dessas ferramentas considerem descontinuar essa utilização”, acrescentaram.
O estudo mostrou ainda que “a importância das comunidades de pertença religiosa” se manteve durante a pandemia, surgindo as páginas das paróquias dos inquiridos ou das suas comunidades religiosas de pertença como “recursos procurados por um quinto dos inquiridos, ocupando o segundo lugar dos conteúdos digitais mais procurados, logo após os ‘sites’ com conteúdos religiosos e espirituais de outras origens”.
“Verifica-se uma variedade significativa de recursos digitais acedidos, com relevo para os vídeos, ‘podcasts’ e aplicações para oração. Poder-se-á mesmo falar de uma multimedialidade espiritual”, concluíram.
O estudo baseou-se num inquérito a 1.099 pessoas de todas as regiões de Portugal, com especial incidência de residentes do norte, centro e Lisboa.
LUSA/HN
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