Maioria de assistidos em resposta social em Gaia em privação material severa

21 de Dezembro 2021

Um estudo divulgado esta terça-feira concluiu que 97,4% dos cidadãos em situação de pobreza assistidos durante a pandemia numa resposta de emergência social em Gaia apresentavam privação material severa, nomeadamente fruto de uma situação de desemprego.

Desenvolvido pelo Instituto Superior Miguel Torga, através do curso de Serviço Social, em parceria com o Serviço Social da Delegação de Vila Nova de Gaia da Cruz Vermelha Portuguesa, o estudo faz o retrato da vulnerabilidade social associada à pandemia de Covid-19, no contexto de recurso ao serviço social daquela instituição no Norte de Portugal.

De acordo com os dados recolhidos entre junho de 2020 e março de 2021, 97,4% dos 230 participantes que recorreram à resposta de emergência por se encontrarem em situação de pobreza ou vulnerabilidade social apresentavam uma situação de privação material severa, associada a um baixo nível de suporte informal.

“A maioria o que nos disse foi que não tinha família”, indicou hoje em declarações à Lusa Sónia Silva, assistente social da Cruz Vermelha envolvida no estudo, acrescentando que o apoio alimentar foi o pedido mais recorrente.

De acordo com aquela responsável, cerca de 25% do universo dos participantes são migrantes (não refugiados) de nacionalidade brasileira e a venezuelana, que entraram, na sua maioria, em Portugal na semana em que o país decretou o primeiro confinamento.

Apresentavam uma situação de privação severa e, em alguns casos, ausência de habitação, disse.

A Taxa de Privação Material Severa refere-se à condição do agregado doméstico privado no qual se verifica carência forçada em pelo menos quatro de nove indicadores de dificuldades económicas acordadas na União Europeia.

“Dentro dos indicadores de dificuldades económicas existem variáveis, tais como o atraso no pagamento de hipotecas, rendas, contas de serviço de utilidade pública, ou prestações”, explicou Filipa Ribeiro, outra das assistentes sociais que participou no estudo.

De acordo com as duas assistentes sociais, os resultados apontam para um agravamento da situação socioeconómica dos participantes, verificando-se que após o Estado de Emergência existiu uma maior probabilidade de os inquiridos estarem desempregados e procurarem apoio social formal.

Entre os 230 inquiridos – na sua maioria mulheres (77,8%), com idades entre os 20 e os 85 anos –, o desemprego aumentou 31,3%, originando uma fragilização dos rendimentos dos agregados familiares e perda de autonomia.

“Antes do Estado de Emergência estavam 112 (das 230) pessoas empregadas e após estavam apenas 41”, indicou Filipa Ribeiro.

O estudo – desenvolvido e implementado pela equipa de assistentes sociais da Cruz Vermelha Portuguesa de Gaia que se encontrava na primeira linha de resposta à pandemia – evidenciou ainda a relevância do apoio social informal e formal, tanto das medidas de emergência social como das medidas de política pública, tendo 17,9% dos inquiridos passado a ter rendimentos exclusivamente advindos de apoios sociais, ou a contar com o apoio formal para compensar perdas de rendimento.

No que concerne ao apoio institucional solicitado pelos participantes, os resultados obtidos demonstram que a totalidade recorreu a apoio institucional, tendo todos solicitado apoio alimentar.

À Lusa, Sónia Silva referiu ainda que os pedidos de apoio na Delegação da Cruz Vermelha de Vila Nova de Gaia não têm abrandado, mantendo-se o apoio já não de emergência, mas de continuidade.

No contexto da resposta de emergência, de apoio em bens, de março de 2020 a dezembro de 2020, aquela delegação apoiou 279 agregados familiares, num total de 728 beneficiários (550 adultos e 228 crianças).

Durante este período, disse, foram distribuídos 8.442 quilos (kg) de arroz e massas, 5.677 litros (Lt.) de leite, 1.025 Lt. de azeite e óleo, 3.308 kg de leguminosas, 3.642 kg de cereais e bolachas, 6.051 kg de conservas, 760 kg de açúcar, farinha e sal, 658 artigos de higiene pessoas e 66 de higiene doméstica.

LUSA/HN

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