Gouveia e Melo toma hoje posse como Chefe do Estado-Maior da Armada

27 de Dezembro 2021

O Presidente da República dá esta segunda-feira posse ao vice-almirante Henrique Gouveia e Melo como novo Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), na sequência da exoneração de Mendes Calado, que não sai “por vontade própria”.

A cerimónia, restrita devido à situação pandémica, está marcada para as 15:00, no Palácio de Belém, em Lisboa.

Na quinta-feira, o Conselho de Ministros aprovou a proposta da nomeação do vice-almirante que, até setembro, coordenou a ‘task force’ da vacinação contra a Covid-19 para o cargo de (CEMA), substituindo o almirante António Mendes Calado, e que teve “o parecer favorável do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, após audição do Conselho do Almirantado”.

No mesmo dia, Marcelo Rebelo de Sousa indicou que iria “nomear Chefe do Estado-Maior da Armada o senhor vice-almirante Henrique de Gouveia e Melo e promovê-lo ao posto de almirante”.

O Presidente, que é também comandante supremo das Forças Armadas, agradeceu a Mendes Calado o seu empenho enquanto CEMA e anunciou a sua condecoração com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, mas considerou “ser chegado o tempo” de o exonerar do cargo.

Ainda na quinta-feira, Mendes Calado afirmou, num vídeo publicado no Facebook oficial da Marinha, que deixa a Marinha “não por vontade própria”, assegurando que “até ao último momento” manteve a “mão firme no leme” porque é isso que “mares agitados” exigem.

No dia seguinte, na sexta-feira, o Presidente sustentou que este é “o momento” para substituir o CEMA, uma vez que “fazia sentido esperar pelas leis orgânicas do Estado-Maior-General das Forças Armadas e dos três ramos”.

“E, portanto, parece que é o momento, um novo ciclo político, porque é uma nova orgânica, e funcional, que explica que seja este o momento e não o outro o momento, este o momento da concretização daquilo que havia a concretizar”, defendeu.

O chefe do Estado disse também ter agradecido “muito ao senhor almirante Mendes Calado, porque não só logo no início deste ano se mostrou disponível para encurtar o mandato – que seria mais tarde, isto agora foi antecipado uns meses – como o cumpriu até o fim de uma forma muito brilhante, como toda a sua carreira”.

No mesmo dia, o primeiro-ministro, António Costa, desdramatizou a substituição do CEMA, alegando que havia um entendimento para “uma saída das funções antes” do fim do mandato.

António Mendes Calado é CEMA desde 2018, tendo sido reconduzido para mais dois anos de mandato em 16 de fevereiro deste ano, com efeitos a partir de 01 de março.

Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo nasceu em Quelimane, Moçambique, em 21 novembro 1960. Ingressou na Escola Naval em 7 setembro de 1979. Passou 22 anos da sua carreira nos submarinos onde exerceu diversas funções operacionais, tendo comandado os submarinos Delfim e Barracuda.

PERFIL: Dos submarinos à vacinação contra covid-19, o percurso de Gouveia e Melo até CEMA

Henrique Gouveia e Melo, que hoje será empossado no cargo de Chefe do Estado-Maior da Armada, ficou conhecido dos portugueses ao assumir a coordenação da vacinação contra a covid-19, depois de uma longa carreira na Marinha.

Foi em 03 de fevereiro deste ano que o agora almirante de 61 anos, submarinista, assumiu a ‘task force’ – após a demissão de Francisco Ramos devido a irregularidades no processo de vacinação -, embora estivesse desde o início da pandemia no planeamento das ações das Forças Armadas no terreno.

A partir desse dia, vestiu o camuflado para “uma guerra” contra o vírus SARS-CoV-2, e tornou-se uma cara conhecida dos portugueses. Um dos passos decisivos foi o arranque dos centros de vacinação e o momento mais conturbado ocorreu em 14 de agosto, quando Gouveia e Melo foi a Odivelas acompanhar a vacinação de jovens e acabou insultado à entrada por cerca de 30 negacionistas, que o acusaram de “assassino”.

“O negacionismo e o obscurantismo é que são os verdadeiros assassinos. O vírus associado à ignorância e ao medo ainda mata mais”, afirmou, antes de voltar a enfrentar os manifestantes na porta principal, mas já com escolta da PSP, que passou a acompanhá-lo.

A meio de agosto foi condecorado pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis e, depois, em 28 de setembro, já ultrapassada a meta dos 85% de primeiras doses, Gouveia e Melo anunciou o fim da ‘task force’, destacando um processo “que vai ficar na história” e desejando “voltar ao anonimato”.

No entanto, o anonimato parece distante, com diversas presenças em eventos, entrevistas, distinções como personalidade do ano e, agora, a nomeação como chefe da Armada, depois de mais 40 anos ligado a este ramo.

A visão de Gouveia e Melo sobre a instituição está patente numa edição de 2019 dos Cadernos Navais, intitulada “Uma Marinha útil e minimamente significativa”, texto de quase 80 páginas.

“Uma Marinha minimamente significativa, de duplo uso, capaz de ocupar e exercer as funções de Presença, Dissuasão e Projeção quer no espaço marítimo interterritorial, quer nas aproximações deste, contribuindo para a defesa e promoção dos interesses nacionais, para a diplomacia portuguesa e para a segurança coletiva de Portugal e dos seus aliados, é essencial”, defendeu, na conclusão.

Numa entrevista ao semanário Expresso, na sexta-feira, Gouveia e Melo defendeu que é necessário investimento no mar como ativo geoestratégico, tirando proveito da situação geográfica do país para a economia.

Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo nasceu em Quelimane, Moçambique, em 21 novembro 1960. Ingressou na Escola Naval em 7 setembro de 1979.

O agora almirante passou 22 anos da sua carreira nos submarinos onde exerceu diversas funções operacionais, tendo comandado os submarinos Delfim e Barracuda.

Entre 1998 e 2002 liderou o Serviço de Treino e Avaliação da Esquadrilha de Submarinos e o Estado-Maior da Autoridade Nacional para o Controlo de Operações de Submarinos (SUBOPAUTH), assumindo mais tarde o comando daquela esquadrilha.

Gouveia e Melo esteve ainda na origem do curso de qualificação para comandantes de submarinos e, à data de setembro de 2019, era o oficial com mais horas de imersão, tendo enquanto comandante do Barracuda feito a imersão mais prolongada da história dos submarinos portugueses, num total de 31 dias.

Entre 2006 e 2008 comandou a fragata Vasco da Gama.

Exerceu as funções de Chefe do Serviço de Informação e Relações Públicas do Gabinete do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, 2º comandante da Flotilha de Navios, Diretor de Faróis, Diretor do Instituto de Socorros a Náufragos, Chefe de Gabinete do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e 2º Comandante Naval.

Desde o ano passado era adjunto para o Planeamento do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) e desde o início da pandemia esteve a preparar e a planear as ações conjuntas das Forças Armadas no terreno.

Antes de ser chamado para o EMGFA, era, desde janeiro de 2017, Comandante Naval na Marinha e nessa função foi o responsável pelos trabalhos de recuperação pelo seu ramo em Pedrógão Grande, na altura dos fogos, em 2017.

No percurso da sua carreira, Gouveia e Melo foi ainda distinguido com diversas condecorações.

LUSA/HN

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