Sem descanso, os profissionais de saúde em África – o continente mais atrasado na vacinação, com pouco mais de 10% da população imunizada contra a Covid-19 – estão a delinear estratégias criativas para acelerar as tendências dos últimos meses e dissipar falsos rumores sobre a pandemia.
Em Nairobi, a capital queniana, as enfermeiras distribuem agora vacinas nas ruas movimentadas, sob a sombra de tendas improvisadas e por vezes rodeadas de filas de pessoas.
Também no norte do Quénia, uma área semidesértica que faz fronteira com a Etiópia, as autoridades locais já vacinaram muitos pastores seminómadas, porque decidiram oferecer-lhes vacinas contra a Covid-19, ao mesmo tempo que davam outras vacinas para proteger a saúde dos seus camelos.
Na Libéria, as enfermeiras estão a vacinar pessoas nas igrejas, mesquitas e mercados, no Uganda fazem-no na entrada de restaurantes, estádios desportivos e outros locais de reunião populares.
Enquanto durante os primeiros meses da pandemia alguns governos africanos negaram a existência da Covid-19 nos seus territórios, como no Burundi e na Tanzânia, agora todos os líderes africanos apelam, unanimemente, aos seus cidadãos para que sejam vacinados.
Na sexta-feira, o Presidente do Senegal, Macky Sall, país que registou um aumento considerável do número de casos diários de infeção pela doença nos últimos dias, exigiu o respeito pela “regulamentação sanitária”, incluindo “a utilização de máscaras e vacinação”, e indicou que esta era a única forma de evitar a multiplicação de “casos graves” e hospitalizações.
Contudo, apesar destas mensagens e dos esforços dos profissionais de saúde, a África ainda tem muitos obstáculos a ultrapassar para alcançar o objetivo da União Africana (UA) de vacinar pelo menos 70 por cento da sua população até 2022.
De acordo com John Nkengasong, diretor dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), que anunciou o roteiro no final do ano passado, a vacinação em massa do continente é a única forma de controlar a pandemia de Covid-19.
O número de doses recebidas pelo continente aumentou nos últimos meses, mas a África continua a enfrentar obstáculos internos nesta corrida contra o tempo, como a relutância de muitos cidadãos em se vacinarem, e externos, como a distribuição desigual de vacinas que dá prioridade aos países do Norte global.
Atualmente, os países africanos, que acolhem 16% da população mundial, ou cerca de 1,3 mil milhões de pessoas, administraram apenas 3% das vacinas contra a Covid-19 distribuídas em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
O representante da OMS no Uganda, Yonas Tegegn, não tem dúvidas: o Uganda tem a capacidade de atingir a meta da UA devido à sua experiência no combate a outras doenças, como o sarampo.
Já para Phionah Atuhebwe, um perito ugandês em programas de vacinação, toda a humanidade tem muito em jogo em África, uma região que tem mais de 9,7 milhões de casos positivos e quase 229.000 mortes, de acordo com os últimos dados oficiais compilados pelo África CDC.
“A covid-19 não conhece fronteiras”, lembrou Actuhebwe. Se um único país atrasar a vacinação, este vírus terá espaço para se transformar em variantes mais perigosas.
Assim, os países de rendimento alto precisam de ajudar as nações de baixo rendimento.
A Covid-19 provocou 5.448.314 mortes em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em diversos países.
Uma nova variante, a Ómicron, considerada preocupante e muito contagiosa pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral, mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, a 24 de novembro, foram notificadas infeções em pelo menos 110 países.
LUSA/HN
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