Populares protestaram contra falta de médicos em Porto de Mós

21 de Janeiro 2022

Dezenas de populares concentraram-se esta sexta-feira em frente ao Centro de Saúde de Porto de Mós, no distrito de Leiria, num protesto contra a falta de médicos e ao qual se associaram autarcas.

À agência Lusa, Agostinho Santos, de 65 anos, residente na Mendiga, disse que não tem médico de família, pelo que recorre ao centro de saúde na sede do concelho.

“Venho aqui e aqui ninguém me atende, porque não têm médicos. Chego às 08:00 e espero até às oito, nove da noite, para ser atendido”, afirmou, referindo que a espera não garante atendimento.

Considerando que “agora era uma boa altura para resolver isto”, Agostinho Santos sugeriu: “Ninguém votava no concelho”.

Manuel Alves, de 73 anos, corroborou: “Era a hora ‘h’. O pessoal está todo revoltado”.

Este morador em São Bento tem de fazer 20 quilómetros para se deslocar a este centro de saúde e outros tantos para regressar a casa.

“Vou aqui ou vou ao médico particular. Mas este não passa credenciais para fazer exames”, explicou.

De Mira de Aire, Maria Florbela, de 69 anos, tem médico de família na freguesia, mas marcou presença “para ajudar os outros que não têm”.

“Até ver, consigo ser atendida”, declarou, para logo depois outra utente da mesma freguesia contar estar “à espera de uma receita há dois meses”.

A presidente da Ur’Gente – Associação de Utentes de Saúde de Porto de Mós, que organizou a iniciativa, considerou que o estado da saúde no concelho “não tem outra classificação que não calamitosa”.

“Os utentes não têm acesso à saúde”, lamentou Ana Margarida Amado.

O presidente da Junta de Porto de Mós, Manuel Barroso, declarou que “se nota a revolta das pessoas que, todos os dias, desabafam” sobre esta situação.

Este responsável rejeitou qualquer motivação política na iniciativa que terá juntado cerca de uma centena de pessoas.

Autarca desde 2013, Manuel Barroso garantiu que a situação da saúde está a agravar-se e salientou que “no final deste mês só fica um médico” no Centro de Saúde de Porto de Mós, onde acorrem pessoas de outros locais do concelho porque onde vivem não têm médico de família.

O presidente da Câmara de Porto de Mós, Jorge Vala, que na semana passada disse que a situação da saúde era “anormalmente grave” devido à falta de médicos, precisou que no final do mês “um único médico vai ficar com mais de nove mil utentes” nesta unidade de saúde.

Jorge Vala admitiu cansaço face “a promessas ao longo de anos que têm sido tantas e tão pouco consistentes”, justificando o apoio ao protesto para mostrar ao país a “indignação da população”.

Informando que um médico atendeu num dia 80 utentes, o que “é manifestamente desumano”, o autarca avisou: “Estamos numa situação extrema”.

Segundo Jorge Vala, “também utente sem médico de família”, o que se prevê que possa vir a acontecer é ter o “centro de saúde encerrado”, centro de uma sede de concelho.

O protesto, além de vários discursos, contou com uma aula de ginástica, onde participantes faziam exercícios empunhando cartazes nos quais se lia “Precisamos de médico agora!” e “Os utentes no coração do sistema de saúde”.

A Lusa contactou, sem sucesso, a diretora executiva do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Pinhal Litoral, que engloba os concelhos de Batalha, Leiria, Marinha Grande, Pombal e Porto de Mós.

Na semana passada, Delfina Carvalho reconheceu “a falta de médicos na região, transversal também a todo o país”.

“Neste último concurso, que está a terminar, pedimos 29 vagas para médicos para todo o ACES, deram-nos oito. Das quatro vagas para Porto de Mós, deram uma”, declarou Delfina Carvalho.

O concelho de Porto de Mós tem cerca de 23.200 habitantes distribuídos por 10 freguesias.

LUSA/HN

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