“Graças à assistência e facilidades oferecidas pelas autoridades, itens vitais para a população, incluindo medicamentos essenciais, chegaram a Mekele”, anunciou o CICV numa declaração.
A ajuda médica de emergência será agora distribuída pelos estabelecimentos de saúde do estado etíope.
Apollo Barasa, que coordena as atividades de saúde da delegação do CICV na Etiópia, citado na declaração, afirma que “a perspetiva de este primeiro carregamento chegar aos hospitais é um enorme alívio”.
“Esta assistência pode salvar milhares de vidas, e não consigo sublinhar suficientemente a importância de que estas entregas continuem a poder ser feitas”, acrescentou.
O CICV está a organizar mais voos para entrega de material médico nos próximos dias e semanas. Além disso, pretende enviar um comboio humanitário por estrada, assim que a situação de segurança o permita.
A organização continuará, paralelamente, a prestar assistência às instalações de saúde nos estados vizinhos de Tigray, Amhara e Afar, onde a prestação de cuidados de saúde também foi gravemente afetada pelo conflito.
Tigray, um estado com seis milhões de habitantes, tem estado sob o que a ONU classificou como um “bloqueio de facto” há já seis meses.
No passado domingo, Adis Abeba anunciou que iria permitir mais voos “para reforçar o transporte terrestre” de alimentos e medicamentos para o seu estado no norte da Etiópia.
Nas últimas semanas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou não conseguir fazer chegar quaisquer fornecimentos médicos a Tigray desde 15 de julho de 2021.
A guerra no Tigray eclodiu em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal para aquele estado no norte do país, com a missão de retirar pela força os dirigentes locais da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês) que vinham a desafiar a autoridade de Adis Abeba há muitos meses.
O pretexto específico da invasão foi um alegado ataque das forças estaduais a uma base militar federal no Tigray, e a operação foi inicialmente caracterizada por Adis Abeba como uma missão de polícia, que tinha como objetivo restabelecer a ordem constitucional e conduzir perante a justiça os responsáveis pela sua perturbação continuada.
O conflito na Etiópia provocou a morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a ONU.
Uma investigação conjunta do Alto-Comissariado das Nações Unidas e da Comissão Etíope dos Direitos Humanos, criada pelo Governo etíope, concluiu no início de novembro último que foram cometidos crimes contra a humanidade por todas as partes envolvidas no conflito, onde participaram o exército da Eritreia, ao lado do exército federal etíope, assim como forças insurgentes do estado da Oromia, ao lado do contingente militar da TPLF.
A ONU estima, por outro lado, que entre novembro e dezembro, ao abrigo do estado de emergência, tenham sido detidas entre 5.000 e 7.000 pessoas, incluindo membros do seu pessoal, sobretudo de etnia tigray. Testemunhas, advogados e grupos de direitos humanos denunciaram na altura essa vaga de detenções e um número desconhecido de detidos foi, entretanto, libertado, após as mudanças no xadrez na guerra, no final de dezembro.
LUSA/HN
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