Adriana Lages (AL)- A nova formulação de insulina lispro (insulina lispro ultrarrápida) foi desenvolvida de forma a mimetizar de forma mais adequada a secreção fisiológica de insulina.
A sua associação a dois componentes – uma prostaciclina, treprostinil, que permite aumento da vasodilatação local, e o citrato, que acelera a absorção da insulina por aumentar a permeabilidade vascular do local onde a mesma é administrada – vem permitir um início de ação mais precoce comparativamente à insulina lispro.
Esta maior semelhança com a secreção endógena de insulina demonstrou superioridade na cobertura da excursão glicémica pós-prandial em pessoas portadoras de DM1 e DM2.
HN- Lyumjev é uma insulina prandial para injeção subcutânea que deve ser administrada zero a dois minutos antes do início da refeição, com a opção de ser administrada até 20 minutos após o início da refeição. De que forma é que isto permite melhorar a qualidade de vida dos doentes?
AL- A prática clínica permite-nos acompanhar pessoas portadoras de doença crónica, como é o caso da diabetes, e reconhecer algumas limitações do plano terapêutico que propomos em consulta.
A simplificação de atividades inerentes ao tratamento, nomeadamente uma maior flexibilidade no timing de administração de insulina prandial sem comprometer o controlo glicémico, constitui um fator chave no que diz respeito a potenciarmos uma maior adesão terapêutica e, sobretudo, na melhoria de uma limitação reconhecida com as insulinas prandiais previamente disponíveis.
Atualmente, precisamos de encontrar soluções que se adequem ao estilo de vida flexível e exigente das pessoas portadoras de diabetes, e as novas formulações de ação mais rápida de insulina vêm precisamente responder a esta necessidade.
HN- Nos ensaios clínicos de fase 3 PRONTO-T1D e PRONTO-T2D verificou-se uma melhoria das glicemias pós-prandiais, sem aumento do risco da hipoglicemia. Identifica isso na sua prática clínica?
AL- Sim. Embora os ensaios clínicos de fase 3 demonstrem um benefício significativo na cobertura da excursão glicémica pós-prandial, os dados da vida real têm um valor inegável e relevante.
Há, reconhecidamente, esta translação para a prática clínica diária com a utilização de insulina lispro de ação mais rápida, espelhando sobretudo uma maior sincronia entre o seu início de ação e a excursão de glicose no período pós-prandial.
HN- O tempo dentro do intervalo alvo é uma nova medida. Como valorizam este valor na consulta com o doente? Lyumjev permite mais 44 minutos dentro do TIR. O que significam 44 minutos todos os dias na vida de uma pessoa com diabetes?
AL- Existe evidência robusta, desde os estudos basilares na área da diabetes, que a melhoria do controlo metabólico se associa a um menor risco de complicações crónicas, sobretudo microvasculares. No entanto, desde há muito que se reconhecem as limitações inerentes à utilização do valor de HbA1c para a sua tradução única.
A utilização de novas métricas em diabetes, sobretudo a partir de um acesso mais liberalizado às tecnologias como a monitorização de glicose intersticial, permitiu a obtenção de dados como o “tempo dentro do intervalo alvo” (time in range ou TIR).
Desde 2017 que a interpretação conjunta da HbA1c e do TIR permite traçar metas terapêuticas individualizadas para a pessoa portadora de diabetes.
Maior tempo passado dentro do intervalo alvo estipulado para o nosso doente (tendo em conta o tipo de diabetes, a sua fragilidade e comorbilidades presentes) traduz-se num melhor controlo metabólico e, portanto, menor impacto negativo da doença.
HN- Uma insulina que tem todas as apresentações (100, 200, junior, frasco, cartucho) é relevante na prática clínica? De que forma pode simplificar a gestão da diabetes e dos doentes?
AL- Um portfólio mais versátil e diverso, permitindo-se aproximar da realidade individual, das características clínicas e das preferências da pessoa portadora de diabetes, quer sob esquemas de insulina com múltiplas administrações diárias, quer sob perfusão subcutânea contínua, constitui uma mais-valia inegável para a prática clínica.
A possibilidade de individualizarmos as nossas propostas terapêuticas ao indivíduo que acompanhamos em consulta será sempre um caminho na direção da simplificação e da melhoria da adesão terapêutica do doente.
HN- Como tem sido a experiência de transitar de outras insulinas prandiais para Lyumjev?
AL- Tem sido uma transição simples. Os dados clínicos obtidos até ao momento traduzem um benefício metabólico, sobretudo, na otimização da glicemia pós-prandial, à semelhança do descrito nos ensaios clínicos de fase 3.
Do ponto de vista do utilizador, há sobretudo uma maior satisfação associada à maior flexibilidade sem comprometer a segurança da sua utilização.
Entrevista de Rita Antunes
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