UE/África: Africanos pedem aos europeus que passem das palavras aos atos

19 de Fevereiro 2022

A União Africana (UA) pediu à União Europeia (UE) que passe das palavras aos atos, face ao desejo de tornar o continente africano num parceiro privilegiado do bloco comunitário, para contrariar a ascensão da China e da Rússia.

“Temos uma oportunidade histórica de ouro para mostrar através de nossas ações que renovamos essa parceria”, disse o Presidente do Senegal e da União Africana, Macky Sall, no final de uma cimeira de dois dias em Bruxelas, destinada a promover uma nova ligação entre os países situados a norte e a sul do Mediterrâneo.

No final da cimeira, em que participaram cerca de 70 líderes europeus e africanos, foi aprovada uma declaração conjunta que, entre outros pontos, sublinha que o desafio mais imediato é “garantir o acesso justo e equitativo às vacinas” contra a covid-19.

Nesse sentido, a UE comprometeu-se a doar pelo menos 450 milhões de doses até meados de 2022, para além de ajudar o continente a desenvolver capacidades para produzir as suas próprias vacinas, com o objetivo de que até 2040 África fabrique 60% dos medicamentos que consome.

A estratégia da Europa é promover este e outros objetivos, como o desenvolvimento do “hidrogénio verde, redes de transporte, conexões digitais, satélites, agricultura sustentável, agricultura e educação”, como resumiu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para o que a UE já anunciou que vai mobilizar, em sete anos, 150.000 milhões de euros de investimento público e privado, para contrariar a “Rota da Seda” chinesa.

No entanto, as instituições da UE não conseguiram determinar de onde virá o dinheiro, que alguns cálculos jornalísticos colocam em cerca de 6.000 milhões de euros por ano em fundos públicos.

“Vamos trabalhar para ser transparentes, também perante vós”, disse o Presidente de França, Emmanuel Macron, ao ser questionado na sala de imprensa sobre a ambiguidade da promessa de financiamento por meio da qual a UE espera tornar-se “o parceiro de referência” para o investimento em África em termos de infraestruturas”.

A declaração inclui, no entanto, outros aspetos mais específicos desta nova relação que pretendem relançar dois blocos com uma delicada história colonial, como é o caso da “restituição” do património cultural e artístico africano em mãos europeias.

Nas mesas temáticas em que se estruturaram os debates da cimeira – em que não coincidiram os países de herança colonial direta, como a Bélgica e a República Democrática do Congo ou os Países Baixos e a África do Sul – foi dada especial importância à paz e à segurança, copresidida por Espanha, Mauritânia e Gana.

“Temos que proceder de outra forma (…). Não é uma questão de que soldados franceses, alemães ou dinamarqueses vão morrer em África. Precisamos de tecnologia, experiência e meios de financiamento e equipamentos para enfrentar esta terrível ameaça à paz e estabilidade”, disse o presidente da comissão da União Africana, Moussa Faki.

Falou-se também da imigração ilegal, para abordar a questão pelos “dois lados”, disse Macron, cujo país detém neste semestre a presidência rotativa do Conselho da UE, tanto no combate ao tráfico de seres humanos como no “regresso dos que chegaram ilegalmente ao território europeu”.

Em suma, a cimeira procurou cimentar a relação entre a Europa e África no século XXI, que “têm recursos essenciais um para o outro”, disse Macky Sall, que sublinhou que é necessário construir “uma visão de associação e não apenas uma relação de ajuda”.

“A inteligência coletiva europeia e africana, em conjunto, pode alcançar muitas conquistas”, resumiu o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, numa cimeira em que os líderes europeus estiveram muito atentos aos últimos desenvolvimentos relativos à tensão entre a Rússia e a Ucrânia.

NR/HN/LUSA

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