Vários portugueses, contactados pela Lusa, insistiram que, por prudência, não devem falar aos jornalistas sobre assuntos tão delicados e alguns deles chegaram mesmo a dizer: “Eu falo, mas não pode dizer que foi eu que disse”, apesar de ser “um assunto do momento” entre a comunidade.
Alguns portugueses explicaram temer que as consequências da guerra afetem a vida das pessoas “numa Venezuela que está em crise desde há vários anos”, onde “muitas pessoas vivem na pobreza” e que “mesmo sendo um país produtor de petróleo, a produção interna de combustível e de alimentos não é suficiente para abastecer a população”.
Sérgio Nunes, presidente do Centro Português de Caracas, explicou à Lusa que “a guerra não convém a ninguém, é uma situação que pode sair de controlo e pode afetar a todos, inclusive já está afetando economicamente e pode desembocar em algo maior”.
“Na Venezuela estamos longe, mas qualquer coisa a nível nuclear e a outro nível pode afetar a todos. [A guerra] é um tema recorrente e de grande preocupação na comunidade. Teme-se que isso repercuta em tudo, no económico, na paz mundial e na segurança”, disse Sérgio Nunes.
O presidente do Centro Português de Caracas lamentou que se esteja a sair “de uma pandemia” da Covid-19 e a entrar “numa nova onda de incerteza”, advogando que as pessoas devem “expressar o seu descontentamento”.
“Para fazer pressão, para que se saiba que não queremos nem uma guerra, nem um conflito, mas sim a paz”, acrescentou.
“Os líderes mundiais têm de assumir a liderança neste caso e fazer isto [a guerra] parar, fazer chegar a um acordo, a uma mesa de negociações”, sublinhou.
Por outro lado, o comerciante luso-venezuelano José Freitas, está “muito apreensivo, porque esta guerra é diferente e pode inclusive afetar a Venezuela, Portugal e levar a chegar a algo maior”.
“Sinto muita preocupação. A Rússia e a Ucrânia, estão longe, mas o modo como decorram as coisas vai afetar-nos aqui e inclusive a todo o mundo”, afirmou, recordando que a Venezuela depende do mercado internacional para abastecer a população de combustível.
Segundo este comerciante, “mesmo que os preços do petróleo subam”, como consequência da guerra, “e Caracas possa vir a lucrar-se com isso”, lembra que “vigoram sanções internacionais contra a Venezuela, o que poderá dificultar a venda de crude em mercados internacionais”.
Este luso-venezuelano está ainda preocupado porque a Venezuela está no meio da crise entre a Rússia e os Estados Unidos da América (EUA), apesar de “não haver um motivo forte que o justifique, porque somos gente de paz”.
“O Governo venezuelano tem demonstrado apoio total à Rússia, mas ainda não percebi se essa solidariedade tem como propósito proteger a população de situações futuras, que escapem do controlo da diplomacia, mas não podemos estar de acordo com invasões e condenamos todas as guerras”, explicou.
Na sexta-feira, a Venezuela pediu uma resolução pacífica do conflito Rússia-Ucrânia, depois de a ofensiva militar russa em várias localidades ucranianas, acusando a NATO e os EUA de violarem os acordos existentes.
Caracas disse ainda condenar as sanções internacionais contra a Rússia, por afetarem os direitos humanos do povo russo, enquanto a oposição venezuelana criticou o apoio de Caracas à Rússia e as alegadas intenções russas de usar a Venezuela com fins bélicos para pressionar os EUA.
Em janeiro, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Riabkov, disse à estação de televisão russa RTVI TV não excluir a possibilidade de enviar equipamento militar para Cuba e Venezuela, perante o aumento da pressão dos EUA sobre a Rússia.
A Rússia lançou na quinta-feira de madrugada uma ofensiva militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que já provocaram pelo menos 198 mortos, incluindo civis, e mais de 1.100 feridos, em território ucraniano, segundo Kiev. A ONU deu conta de 150 mil deslocados para a Polónia, Hungria, Moldávia e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a “operação militar especial” na Ucrânia visa desmilitarizar o país vizinho e que era a única maneira de a Rússia se defender, precisando o Kremlin que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), UE e Conselho de Segurança da ONU, tendo sido aprovadas sanções em massa contra a Rússia.
LUSA/HN
0 Comments