Pandemia e guerra condicionam crescimento da economia de São Tomé e Príncipe

5 de Março 2022

O Presidente da República de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, anunciou na sexta-feira que dados preliminares apontam para “um possível abrandamento da economia” são-tomense “dos 3% estimados em 2020 para 2% em 2021”.

Carlos Vila Nova, que discursava na sessão de cumprimentos do Corpo Diplomático, acrescentou que aqueles números “embora não negligenciáveis, revelam apenas o quanto a economia cresceu”.

“Na verdade, devemos estar preocupados com a sustentabilidade deste crescimento, uma vez que muito do mesmo foi suportado pelo significativo e excecional financiamento externo das despesas públicas”, destacou.

O Presidente são-tomense considerou que “em termos de desempenho económico (…) além dos velhos desafios que se mantiveram, a pandemia de covid-19 trouxe problemas adicionais que persistiram ao longo do ano de 2021”.

“Estes novos desafios devem levar-nos a mudar de estratégia, sobretudo no modo de encarar as grandes questões da sociedade, tanto no domínio nacional como internacional”, defendeu.

Além dos efeitos da pandemia na economia do país, as “tensões geopolíticas resultando em previsível subida do preço do petróleo e de bens importados, podem minar ainda mais as perspetivas do crescimento da economia são-tomense para o ano de 2022”.

Ou seja, alertou, vai “contribuir ainda mais para o seu abrandamento e a consequente divergência do crescimento em relação aos países de renda média alta, o que compromete a projeção de crescimento de 2,9% para o corrente ano”.

“Se já havia perspetivas de um crescimento a duas ou três velocidades entre as economias avançadas emergentes e a dos países de rendimento médio-baixo, devido a diferentes velocidades de cobertura de vacinação, os atrasos na disponibilização de vacinas, por um lado, e por outro, as tensões geopolíticas” são fatores que condicionam o crescimento da economia são-tomense, considerou.

Para Carlos Vila Nova, os atuais conflitos geopolíticos “despertam inquietações” e, no caso da intervenção militar russa na Ucrânia, sublinhou a posição de São Tomé e Príncipe, que se coloca “ao lado daqueles que apelam para que se enverede pela via da diplomacia do diálogo para a resolução de diferente do que opõe a Rússia e a Ucrânia”.

“Neste sentido, São Tomé e Príncipe apoiou a resolução apresentada na Assembleia Geral Extraordinária das Nações Unidas sobre a invasão russa e face a existência de vítimas civis. Exortamos que sejam facilitados os acessos à assistência humanitária, aqueles que deles precisam no teatro das operações e apoio às populações deslocadas”, disse.

“Não parece restar dúvidas sobre os riscos de essa situação de guerra poder trazer uma nova era de incerteza à Europa, perturbar as cadeias logísticas e a economia global, impactando nos preços de produtos petrolíferos e alimentares de que os nossos países são importadores”, acrescentou.

Carlos Vila Nova destacou ainda a questão das migrações a partir do continente africano para a Europa, considerando que ao longo de 2021 “o mundo assistiu impotente à persistência dos desastres humanitários originados pelo fluxo migratório de populações que se deslocam à Europa em busca de realização do sonho de uma vida”.

Na vertente ambiental, Carlos Vila Nova salientou a realização em 2021 da COP26 e alertou que o país, um “pequeno Estado insular (…) já se debate com as consequências das mudanças climáticas e, nomeadamente o aumento do nível da água do mar”.

O Presidente são-tomense manifestou-se também preocupado com os perigos da pirataria marítima no golfo da Guiné, onde está localizado, e que ameaçam os seus recursos haliêuticos e petrolíferos.

“São Tomé e Príncipe continuar a buscar uma participação ativa nos esforços regionais com os demais países que compõem o golfo (da Guiné) no sentido de realizar ações concertadas para enfrentar os males comuns. A saber a predação dos recursos naturais, designadamente os haliêuticos, a pirataria e o fenómeno da imigração clandestina”, salientou.

A este respeito, referiu o programa interministerial da Nigéria, no valor de 195 milhões de dólares (178 milhões de euros), e destacou a presença em permanência nas águas são-tomenses do navio Zaire, da Marinha Portuguesa, “que, com uma tripulação mista composta por militares são-tomenses e portugueses, tem efetuado patrulha na nossa zona económica exclusiva e tem assegurada a formação dos militares da guarda costeira”.

A participação do Brasil e da França na formação de fuzileiros navais e militares da guarda-costeira são-tomense foi igualmente destacada.

A cerimónia de apresentação de cumprimentos pelo Corpo Diplomático realizou-se somente ontem devido aos constrangimentos ditados pela doença Covid-19.

LUSA/HN

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