A escritora Gabriela Ruivo Trindade, atualmente radicada no Reino Unido, disse à agência Lusa que a tradução para língua chinesa surgiu “por acaso” após contactos com a Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim.
“Vamos arrancar o mais breve possível, mas obviamente dentro das nossas possibilidades”, acrescentou, lembrando que o ‘site’, atualmente em língua portuguesa, inglesa e francesa, é totalmente feito por voluntários.
A lusófona Marta Hu, que vai estar responsável pela coordenação dos tradutores, reconheceu o desafio de traduzir trabalhos literários como poesia para outra língua.
“Sabemos que em tradução sempre perdemos algumas coisas e especialmente entre chinês e português, duas línguas tão diferentes. Mas é melhor ter do que não ter”, vincou, lembrando que é importante num país onde existe censura.
Hu acrescentou: “A última fonte para receber informação é, por exemplo, o canal oficial [de televisão], e temos muitos estudantes de português na China, mas que não conhecem bem o que está a acontecer nestes países de língua portuguesa”.
A página, que arrancou no início de 2021, continua a ser alimentada com textos, poemas, fotografias ou ilustrações e outras contribuições originais, envolvendo já mais de 150 pessoas, entre artistas e tradutores.
Os portugueses Afonso Cruz, Ana Luísa Amaral, Ana Cristina Silva e Rui Zink, os brasileiros Nara Vidal, João Anzanello Carrascoza, Ronaldo Cagiano, Marcela Dantés, os angolanos Ondjaki e Lopito Feijóo, os moçambicanos Hirondina Joshua e Mélio Tinga e o guineense Emílio Tavares Lima são alguns dos participantes.
Entretanto, em março vai ser publicada em Portugal em livro uma coletânea com trabalhos em prosa (texto, conto e crónica) de 64 autores portugueses, brasileiros e moçambicanos, alguns dos quais vivem fora dos respetivos países.
“Isto da Internet é tudo muito bonito, mas acaba por ser tudo muito desmaterializado. O nosso objetivo é fazer uma memória do que se passou neste momento histórico para que as gerações vindouras possam saber como que foi”, explicou o cofundador Nuno Gomes Garcia, que vive em Paris.
Embora por enquanto o livro seja apenas em português, Marta Hu defendeu que traduzir para chinês esta obra de literatura lusófona contemporânea seria importante tendo em conta que muitos estudantes chineses estão limitados a atores mais clássicos, como Camões ou Fernando Pessoa.
“Seria uma porta para [os estudantes] entrarem e explorarem o que está a acontecer, seria muito significativo porque neste momento as relações entre a China e os países de língua portuguesa estão mais concentradas na área económica e comercial, mas a cultura é o que realmente liga os povos”, enfatizou.
LUSA/HN
0 Comments