Varsóvia “esmagada” com refugiados pede ajuda da ONU e Bruxelas

14 de Março 2022

O presidente da câmara de Varsóvia pediu esta segunda-feira às Nações Unidas e à União Europeia para instalarem no terreno, na Polónia, um sistema coordenado de resposta aos refugiados da Ucrânia, por “a improvisação” atual ser insustentável no longo prazo.

“O meu apelo ao Governo [polaco] e à comunidade internacional é que Varsóvia está a ficar esmagada”, disse Rafal Traskowski, num encontro com jornalistas internacionais na câmara municipal de Varsóvia.

Rafal Traskowski lembrou que 60% dos refugiados que saíram da Ucrânia após a invasão russa de 24 de fevereiro foram para a Polónia, ou seja, 1,7 milhões de pessoas, e acrescentou que 200 mil estão em Varsóvia, que aumentou em 15% a sua população em duas semanas.

“Precisamos de ajuda. Precisamos das Nações Unidas e da União Europeia aqui”, afirmou, lembrando as diversas agências da Organização das Nações Unidas (ONU) que lidam e têm experiência com refugiados, migrações ou assistência a crianças.

Da parte da União Europeia (UE), referiu a ECHO, a Direção-Geral da Proteção Civil e das Operações de Ajuda Humanitária Europeias, para resposta de emergência, e a necessidade de ser criado um sistema de recolocação de refugiados na Europa.

“Precisamos de um sistema, de uma resposta sistematizada. O que está a acontecer não tem precedentes. Sim, a solidariedade é incrível, todos estamos a receber os refugiados com o coração aberto, mas sem os voluntários, as organizações não-governamentais e o trabalho dia e noite de todas as pessoas, o que temos agora já teria colapsado e não aguentaria esta pressão”, disse Rafal Traskowski.

No início do conflito, sublinhou, 97% dos refugiados tinham amigos e familiares para os acolher em Varsóvia ou outras cidades polacas e europeias, pelo que a assistência nos centros de receção era sobretudo responder a necessidades imediatas e de encaminhamento.

No entanto, neste momento, 30% dos refugiados já precisa de uma resposta de alojamento e chegam cada vez mais pessoas “traumatizadas com a guerra e desorientadas”.

Segundo afirmou, a resposta que tem sido dada pelas autoridades locais na Polónia tem sido “sincronizada” entre autarcas e presidentes regionais do país e com outros dirigentes locais do resto da Europa, sobretudo ao nível da recolocação de pessoas, “mas não é coordenada, não há um sistema, é uma improvisação”.

O mesmo acontece na resposta a pedidos de ajuda humanitária, com solicitações específicas, de autarcas ucranianos.

“Não podemos improvisar mais”, sublinhou.

“Todos os funcionários da câmara de Varsóvia, ou a maioria deles, estão neste momento a ajudar refugiados. Podemos fazer isso durante uma semana, duas semanas, mas a cidade tem de funcionar. Não o podemos fazer durante meses”, exemplificou, depois de lembrar que esta é “a maior crise migratória e humanitária” na Europa desde a II Guerra Mundial e que o número de pessoas a fugir da guerra continuará a aumentar, atendendo ao avanço dos russos no terreno, incluindo para zonas de fronteira com a Polónia, onde até há poucos dias os ucranianos ainda se sentiam relativamente seguros.

Rafal Traskowski considerou que se a Polónia e o resto da Europa abriram as suas fronteiras aos refugiados, têm também de receber e acolher bem estas pessoas: “É a nossa contribuição para a guerra, receber estas pessoas e mostrar que o Ocidente está unido, que responde em conjunto”.

Os refugiados, sublinhou, são essencialmente mulheres com crianças e idosos, uma população que precisa, no seu conjunto, de assistência social, e cerca de metade devem ser menores que precisam de ter resposta nas escolas.

O presidente da câmara de Varsóvia pediu, por outro lado, o desbloqueamento de fundos de coesão e de recuperação europeus (pensados, neste caso, para a resposta à crise da pandemia de covid-19) para as regiões que estão a lidar mais diretamente com o acolhimento de pessoas que fogem da guerra na Ucrânia, assim como “fundos extra” da UE específicos para a resposta aos refugiados.

A Rússia lançou a 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 549 mortos e mais de 950 feridos entre a população civil e provocou a fuga de 4,5 milhões de pessoas, entre as quais 2,5 milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas a Moscovo.

LUSA/HN

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