HealthNews (HN)- O que destacaria sobre o encontro da primavera que se realizou esta sexta-feira?
André Biscaia (AB)- O tema do evento é a Governação Clínica e o papel que tem que ter nesta fase de reforma dos cuidados de saúde primários. Queremos dar força à gestão intermédia… Muitas das reformas, por melhor que estejam desenhadas, precisam de ter o apoio dos agrupamentos de centros de saúde na gestão, mobilização e formação dos profissionais de saúde.
Por outro lado, este encontro serve para as pessoas conhecerem todos os elementos da nova direção da associação. De facto, praticamente todos os corpos sociais participaram nas sessões.
HN- Qual a importância do evento no atual contexto de pandemia?
AB- A USF-AN teve um papel muito importante. Os cuidados primários viram 97% dos doentes com Covid-19, foram responsáveis por milhões de casos suspeitos e estiveram à frente da implementação da vacinação. Isto tudo foi possível graças à estrutura que se conseguiu na reforma de 2005 e que permitiu na pandemia esta resposta de qualidade.
A associação também tem dado apoio ao Ministério da Saúde. É esse o nosso papel. A USF-AN quer que tudo corra bem e, por isso, estamos ao dispor dos vários governos e das várias administrações. De facto, nesta última fase da pandemia alertamos para a necessidade de uma resposta automatizada, de modo a libertar os profissionais de saúde para assegurar o acompanhamento de outras doenças. Fizemos essa intervenção no final do ano passado e achamos que isso permitiu dar resposta às necessidades sentidas pelos doentes.
A plataforma do BI-CSP foi desenvolvida pela USF-AN e que depois a doou ao Serviço Nacional de Saúde. Portanto, o nosso papel é o de apoiar.
HN- O encontro teve como foco a discussão do futuro das USF e os desafios para a governação clínica. Quais são as propostas da nova direção da associação neste âmbito?
AB- Aquilo que os cuidados de saúde primários precisam neste momento é mais autonomia. Para as USF poderem funcionar bem precisam de estar integradas em agrupamentos com mais autonomia. Penso que esse é o grande desafio.
Por outro lado, precisamos de ter um trabalho mais próximo com as câmaras municipais e de fazer uma reforma de toda a vertente informática dos cuidados de saúde primários. É necessário libertar os profissionais de saúde para atividades realmente importantes… Muitas vezes estes profissionais estão submersos em atividades sem interesse e que poderiam ser feitas por outras pessoas ou inclusive de modo automático.
HN- E no que toca à dimensão das listas de utentes… Quais são as vossas propostas?
AB- É algo que depende de vários fatores: autonomia, simplificação das atividades e conhecimento de adaptação à realidade.
HN- Os desafios das USF são os mesmos que no período pré-pandemia ou a Covid-19 veio agravar este cenário?
AB- A pandemia expôs muitos dos problemas que o SNS tinha, mas também demonstrou que temos um SNS pronto para responder a todo o tipo de crises. Temos que apostar naquilo que realmente tem demonstrado essa “força”… Portanto, temos que ter cuidados de saúde primários públicos em estado de prontidão capazes de responder a estas crises que vão aparecendo.
HN- Nas últimas semanas temos assistido a uma forte pressão dos serviços de urgência hospitalares. Em que medida as USF podem contribuir para resolver o problema de excesso de recurso às urgências?
AB- Esta questão das urgências deve-se a diversos fatores. É preciso fazer uma melhor análise e perceber o que é que os doentes precisam. Temos que estudar o caso dos ‘hiperutilizadores’ dos serviços e que são aqueles que realmente entopem as urgências. Isto torna-se um problema quando temos 1,2 milhões de pessoas sem equipas de saúde familiar. Portanto, temos que dar resposta aos doentes… Se transformássemos o país todo em USF de modelo B conseguíamos dar resposta a mais doentes. Junto com isto, se conseguíssemos simplificar os procedimentos, melhorar as carreiras e as condições de trabalho, conseguíamos atrair os profissionais de saúde que ainda faltam.
Entrevista; Vaishaly Camões
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