Luís Bronze: “A informação é a melhor vacina contra a hipertensão”

05/17/2022
Conhecida como a "doença silenciosa", a Hipertensão Arterial é um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares mais letais. Em Portugal, as doenças cardio-cérebrovasculares são responsáveis por mais de 32 mil mortes por ano e calcula-se que possam reduzir em 12-14 anos a esperança de vida. No Dia Mundial da Hipertensão, o Presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão fala numa nova pandemia, alegando que "se para as pandemias virais as medidas passam por evitar o contágio, na hipertensão o 'contágio' é através dos comportamentos". Luís Bronze defende a importância da diminuição do consumo de sal, a manutenção de dietas saudáveis, atividade física e a adesão à terapêutica.

HealthNews (HN)- A hipertensão é uma doença silenciosa que afeta cerca de 42% da população. Quais as melhores armas de combate?

Luís Bronze (LB)- Vejo a hipertensão arterial como uma pandemia e, fazendo esse paralelismo, se para as pandemias virais as medidas passam por evitar o contágio, na hipertensão o ‘contágio’ é através dos comportamentos. Neste sentido, a informação é a melhor vacina contra a hipertensão. Esta patologia é potenciada pela nossa própria cultura, pelos nossos hábitos e costumes. Portanto, é essencial que as pessoas conheçam o impacto de fatores como a obesidade, o elevado consumo de sal, entre outros. 

HN- Qual a relação entre a hipertensão e a prevalência das doenças cardiovasculares? 

LB- A hipertensão potencia outras doenças do foro cardiovascular como o acidente vascular cerebral e o enfarte agudo do miocárdio… São as doenças que mais matam em Portugal. Uma percentagem importante destes doentes tinha como fator de risco a hipertensão arterial.

HN- Continuamos a ver doentes sem diagnóstico. Quase metade dos 1300 milhões de hipertensos no mundo desconhece que está doente…

LB- A hipertensão é uma doença que não provoca grandes sintomas e, agora, durante a pandemia, muitos doentes afastaram-se dos seus médicos… 

HN- Significa que a falta de acesso ao médico de família tem agravado o cenário da doença a nível nacional?

LB- Acreditamos que a doença cardiovascular e a hipertensão tenha incrementado. Os médicos de família são quem segue a grande maioria dos doentes em Portugal- são estes que fazem o diagnóstico e o acompanhamento. A verdade é que durante a pandemia as pessoas deixaram de ter acesso ao seu médico. Portanto, a situação agravou.

É importante frisar que ver um doente com hipertensão leva tempo. Tem que haver uma grande empatia por parte do médico para explicar ao doente a importância da medicação.

HN- A falta de adesão à terapêutica é um problema já conhecido, pois apesar de quase 75% dos hipertensos portugueses estar sob medicação, apenas 42,6% tem a doença controlada. Quais as propostas da sociedade Portuguesa de Hipertensão para contrariar esta tendência?

LB- Voltamos ao início. É importante informar e explicar que a hipertensão pode mudar a vida dos doentes. O pior que os doentes podem fazer é ignorar esta doença e não mudar os comportamentos. Felizmente existem atualmente formas eficazes de tratar a HTA.

HN- Um estudo apresentado no congresso do American College of Cardiology (ACC 2022) revelou que um alerta para as medicações que deveriam estar em uso aumenta a adesão dos profissionais às diretrizes da IC e a adesão dos doentes à terapêutica. Considera que os resultados seriam semelhantes na hipertensão?

LB- As guidelines não estão escritas na pedra e há sempre médicos que discordam. Na hipertensão as diretrizes muitas vezes não são cumpridas. De facto, um estudo europeu feito no ano passado estima que apenas 10% da terapêutica está de acordo com as guidelines.

A propósito da semana da hipertensão a sociedade tem prevista a realização de ações de sensibilização. Quais as novidades para este ano?

Esta Semana da Hipertensão está pensada para a população em geral, mas também um dos grandes objetivos da Sociedade Portuguesa de Hipertensão é informar a classe médica. Este ano contamos com ações presenciais e digitais. As ações presenciais estão centradas no Hospital Beatriz Ângelo, onde iremos promover rastreios. 

Entrevista de Vaishaly Camões

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