Numa posição entregue no âmbito da discussão pública do Plano Nacional de Saúde 2021-2030, que terminou na semana passada, a SPN reconhece a importância de outras patologias crónicas identificadas no PNS, como o cancro e a diabetes, mas considera que a dimensão da Doença Renal Crónica (DRC) justifica a sua inclusão nas áreas de intervenção prioritária.
“Não nos é inteligível que esta problemática não mereça outra atenção neste pilar dos cuidados em Saúde em Portugal, como aliás tem vindo a acontecer em outros países”, considera a SPN, propondo a inclusão no PNS de um sub-capítulo na estratégia para a diabetes e/ou doença cardiovascular que inclua a doença renal.
“A nossa proposta é a inclusão da doença renal crónica na vertente de identificação precoce, critérios de referenciação para consultas de nefrologia, medidas de nefroprotecção e tratamento modificador do prognóstico, num sub-capítulo da estratégia para a diabetes e/ou doença cardiovascular”, considera.
A SPN manifesta-se também disponível para colaborar e participar numa estratégia global do PNS.
No documento, a que a Lusa teve acesso, a SPN diz que em Portugal, apesar dos dados de prevalência da DRC em estádios 1 a 5 (antes da necessidade de diálise) poderem ser poucos, “existe evidência suficiente para constituir motivo de apreensão”.
Cita, por exemplo, um estudo desenvolvido em 2020 que apurou que cerca de 20% da população portuguesa apresenta algum grau de DRC e um outro, que envolveu população de 11 países e que indica uma prevalência de 10% da doença renal crónica.
Já em diálise, a própria SPN diz ter um registo público onde tanto a incidência como a prevalência da DRC estadio 5 com necessidade de a terapêutica de substituição da função renal (TSFR) “é elevadíssima”.
“Em 2020, mais de 2.000 novos doentes iniciaram alguma TSFR e o país apresentou uma prevalência de 2011.31 [por milhão de habitantes] de doentes em TSFR, ou seja mais de 20 mil doentes ou estão em diálise ou foram já transplantados”, insiste a SPN, lembrando que, de acordo com o Registo da European Renal Association, esta prevalência é uma das mais altas de toda a Europa.
Diz que as estimativas indicam que a prevalência da DRC deverá aumentar e que, em 2040, “será a 5.ª principal causa de anos de vida perdidos por doença”.
“Como se este impacto, a nível individual e social, não fosse suficientemente angustiante, também a nível financeiro e económico é bastante inquietante”, recorda, exemplificando: “Embora apenas 0.1-0.2% da população geral seja submetida a algum tipo de TSFR, esse grupo consome pelo menos 2% e até 5-6% do orçamento dos cuidados de saúde”.
“Estima-se, aliás, que cada doente custe ao Estado cerca de 80.000€/ano”, acrescenta.
A SPN cita ainda estudos que indicam que a doença renal crónica em Portugal “acarreta mais custos do que a insuficiência cardíaca, o enfarte agudo de miocárdio ou a doença arterial periférica”.
Lembra que, apesar de a doença renal poder ser uma “doença silenciosa” com poucos ou nenhuns sintomas até estadios mais tardios, ela pode ser prevenida – a sua progressão -, “abordando fatores de estilo de vida, como a otimização de nutrição, aumento da atividade física, parar de fumar ou mesmo com fármacos que provaram ter forte impacto na progressão da doença e na mortalidade”.
O Plano Nacional de Saúde 2021-2030, da Direção-Geral da Saúde, traça o rumo estratégico para a intervenção no quadro do Sistema de Saúde, agregando as medidas consideradas mais relevantes para obtenção de mais ganhos em saúde por parte da população portuguesa. Atua ainda como referencial para as políticas e ações no setor da Saúde.
LUSA/HN
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