“Já fizemos o aquecimento para podermos, no dia 31, ter a nossa reunião de arranque e pôr as equipas em contacto umas com as outras”, disse ao HealthNews Rui Patrício, o coordenador que representa o SDI.Lab, que resulta de uma parceria entre a UNIDCOM/IADE – Unidade de Investigação em Design e Comunicação da Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia e a Escola de Design do Politecnico di Milano.
De acordo com o IADE e o CMIN, “pretende-se desenhar a experiência macro da utente (jornada) e microexperiências detalhadas (pontos de contato) dos cuidados à maternidade, considerando toda a sua envolvência, pessoas, lugares, objetos, regras, relacionamentos e bloqueios”. “Ao projetar essas microexperiências em toda a jornada dos cuidados à maternidade, ou seja, antes, durante e após a intervenção, será possível oferecer um cuidado mais direcionado e humano às utentes e melhorar o envolvimento das principais partes interessadas”, lê-se no documento enviado ao HealthNews.
Em entrevista ao nosso site, o coordenador do projeto, também coordenador do SDI.Lab, explicou que, apesar de a maternidade do Porto ter um “desempenho excelente em termos de serviço prestado às suas utentes”, “há margem de manobra” para esta equipa intervir, no sentido de “redesenhar experiências mais humanas para as pessoas”, num projeto com duração estimada de dois anos, com uma equipa interdisciplinar.
O projeto tenciona, segundo Rui Patrício, estimular nos cuidados de saúde uma “perspetiva mais fresca, mais nova, mais em linha com aquilo que são as mães hoje em dia”. “A experiência que nós proporcionávamos às grávidas há vinte anos não pode ser a mesma que proporcionamos agora. As pessoas procuram outras coisas”, justificou. Isto implica garantir que as grávidas se sentem bem integradas no processo e parte da solução, “e não apenas destinatárias de um serviço”.
O HealthNews ouviu também a coordenadora do projeto em representação do CMIN, que está integrado num hospital central e universitário de nível III, o Centro Hospitalar Universitário do Porto, que é, desde 2019, a maternidade com o maior número de partos em Portugal. Em 2021, a instituição viu nascer 3.068 bebés. “É a maior maternidade do país e alia estes cuidados assistenciais de grande relevância e impacto na população com uma preocupação e um grande investimento na formação pré e pós-graduada, em integração com o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Portanto, dinamizamos a investigação e o desenvolvimento científico nas áreas da saúde materna, perinatal e pediátrica”, disse Inês Nunes.
No CMIN, de acordo com a coordenadora do projeto, abraçaram o desafio proposto pelo IADE por ser “extraordinariamente inovador” e poder “alavancar para outra dimensão os cuidados assistenciais na saúde da mulher”, na esperança de que tenha um impacto positivo na experiência dos utentes (grávidas, bebés e famílias), durante a gravidez e no parto, e nos profissionais de saúde: “Pretendemos perceber de que forma esta metodologia, o design de experiências, poderá de facto melhorar a humanização dos cuidados à maternidade, reforçando o relacionamento dos utentes com a maternidade ao longo do tempo, e qual o impacto que esta forma diferente de pensar a humanização dos cuidados de saúde (trazendo para os cuidados de saúde a perspetiva do utilizador, ouvindo o utilizador), poderá ter nos profissionais de saúde”.
Segundo a médica, o CMIN está particularmente interessado em saber se o projeto permite: melhorar indicadores obstétricos – a taxa de partos induzidos, taxa de cesarianas em trabalho de parto, taxa de episiotomias ou de partos instrumentados; melhorar a vinculação da mãe ao recém-nascido, o sucesso da amamentação e a satisfação da família, bem como reduzir a taxa de depressão pós-parto e aumentar o desejo de voltar a ser mãe ou pai; e ainda desencadear um aumento na satisfação e motivação dos profissionais, combatendo, assim, o burnout e o absentismo laboral.
Rui Patrício disse-nos que se pretende descobrir como é que o design de experiências pode humanizar a prestação de cuidados à maternidade e que tipo de experiências poderão fazer a diferença na prestação destes cuidados de saúde. “Vamos também tentar avaliar o impacto destas novas micro-experiências nas pessoas. Será importante perceber até que ponto a sua experiência é mais positiva, em que aspetos, e o que ainda poderá ser melhorado”.
Para tal, serão implementadas abordagens, que “conseguem identificar necessidades emergentes e situações que são mais difíceis de detetar em inquéritos de satisfação de cliente”, desenvolvendo várias experiências recorrendo a “metodologias na área do design focado nas pessoas”, explicou o coordenador. No final da entrevista, Rui Patrício quis ainda destacar as “oportunidades de desenvolvimento muito interessantes com outras disciplinas”, entre as quais a psicologia, e o “apoio e entusiasmo” do CMIN.
A conversa com Inês Nunes terminou com uma nota sobre a parceria entre o CMIN e o IADE: “É importante destacar esta interdisciplinaridade – estamos a abrir o serviço público de saúde a uma instituição académica externa e a envolver profissionais que aparentemente nada têm a ver com a saúde, e que já fizeram este tipo de abordagem noutros setores da sociedade com sucesso”. “Podemos aprender imenso uns com os outros e potenciar as nossas experiências profissionais em prol de um bem comum, o de melhorarmos as experiências de vida das pessoas, vida essa que começa na maternidade.”
HN/Rita Antunes
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