Intitulado “Um novo normal? Impactos e lições de dois anos de pandemia em Portugal”, o estudo – coordenado pelos investigadores Nuno Monteiro e Carlos Jalali – visa “registar o sucedido” durante a pandemia de Covid-19 e “aprender as lições” para preparar melhor “futuras crises e pandemias”.
No terceiro capítulo do estudo – “Uma pandemia é uma doença que se globaliza: impacto da COVID-19 na política internacional e nas prioridades de Portugal” –, os investigadores distinguiram dois grupos: o das elites – composto por 59 “dirigentes de 1.º e 2.º graus da administração pública e membros de gabinetes ministeriais” – e o da população, baseado em mais de cinco mil inquéritos feitos em duas vagas: em março e maio de 2021 (primeira vaga) e entre setembro e outubro do mesmo ano (segunda vaga).
Segundo esta amostra, 76% da população inquirida considerou que o ministério da Saúde se destacou pela positiva durante a pandemia de Covid-19, sendo que o ministério da Administração Interna foi o que obteve a pior avaliação, com 28% dos inquiridos a julgarem que se destacou “pela negativa”.
No mesmo sentido, 70% dos inquiridos integrantes do grupo “elite” estimaram que o ministério da Saúde se destacou pela positiva durante a pandemia, com 12% a darem uma avaliação negativa ao ministério da Administração Interna e ao ministério das Finanças.
“Estas respostas permitem perceber que, quer ao nível das elites, quer ao nível da opinião pública, não havendo uma avaliação uniformemente negativa da capacidade de coordenação e ação do Estado na resposta a este tipo de emergência, existe ainda assim espaço para melhorar, na opinião da maioria dos respondentes”, lê-se no estudo.
Os investigadores realçam também que, “entre os setores do Estado avaliados na resposta à pandemia, as Forças Armadas destacam-se pelo aumento do seu crédito junto dos inquiridos”.
Enquanto que, entre março e maio de 2021, 77% dos inquiridos consideraram que as Forças Armadas desempenharam um papel que vai de “moderadamente eficaz” a “muito eficaz”, essa percentagem sobe para 92% no que se refere aos inquiridos entre setembro e outubro de 2021.
Em relação às forças de segurança, os investigadores notam também uma “reapreciação positiva” junto da população, apesar de ser “mais modesta” do que a das Forças Armadas, com 80% dos inquiridos a considerarem que estas tiveram um papel de “moderadamente eficaz” a “muito eficaz” entre março e maio, valor que aumenta para 84% na ronda de entrevistas de outubro e novembro.
No grupo das elites, a taxa assemelha-se: 94% consideraram que as Forças Armadas foram “moderadamente eficazes”, “eficazes” ou “muito eficazes”, e 90% partilham essa opinião relativamente às Forças de Segurança.
No entanto, a opinião entre as elites e a população geral diverge no que se refere à avaliação da preparação do Estado para lidar com emergências complexas: na população, mais de 60% estimou que o Estado está “pouco preparado” ou “moderadamente preparado”, com apenas cerca de 17% a considerarem que está “preparado”.
Nas elites, 37% estimam que o Estado está “preparado”, outros 37% “muito preparado” e 22% “pouco preparado”.
Segundo os investigadores, “pode-se concluir que a perceção da opinião pública quanto ao resultado deste teste pandémico e à capacidade do Estado português é a de que, não tendo sido um desastre, longe disso, poderia e deveria ter sido melhor”.
As opiniões da elite e da população divergem também relativamente à avaliação que fazem dos Estados que tiveram o papel mais positivo na resposta internacional à covid-19: segundo a perceção da população portuguesa, o Estado com o papel mais positivo foi a China (20%), seguido dos Estados Unidos (15%) e do Reino Unido (12%).
Em contraponto, as elites destacaram a Alemanha (27%), seguido da União Europeia (24%) e Israel (17%). Só 2% dos inquiridos nas elites partilham dessa opinião relativamente ao Reino Unido, 3% para a China e 5% para os Estados Unidos.
O estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos é apresentado hoje e no sábado no Teatro Camões, em Lisboa, no âmbito de um encontro intitulado “Outra vez nunca mais – prevenção e resposta a pandemias”.
LUSA/HN
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