Estudo internacional alerta para urgência na proteção de fungos aquáticos

6 de Junho 2022

A conservação dos fungos aquáticos, “raramente considerada”, precisa de ser “urgentemente reconhecida” como prioridade de gestão face às ameaças que enfrentam, concluiu um estudo internacional que teve a participação da Universidade de Coimbra.

O estudo, publicado na revista científica “Frontiers in Ecology and The Environment”, centrou-se no papel dos fungos aquáticos, “nas ameaças que enfrentam e nos caminhos para a sua proteção”, num projeto de investigação liderado por uma instituição checa e que contou com a participação da investigadora Susana Gonçalves, do Centro de Ecologia Funcional, revelou hoje a Universidade de Coimbra, em nota de imprensa enviada à agência Lusa.

Os fungos aquáticos desempenham um papel fundamental nas cadeias alimentares, nos ciclos de nutrientes, matéria e energia e na purificação da água, mas, “à semelhança do que acontece com organismos que tendem a ser discretos e frequentemente invisíveis a olho nu, a sociedade negligencia-os, na sua maioria, e esquece a sua enorme importância no suporte e estabilidade dos ecossistemas aquáticos”, salientou Susana Gonçalves, citada na nota de imprensa.

“Esquecemo-nos de que os fungos aquáticos estão expostos a uma vasta gama de ameaças resultantes das atividades humanas. Sem medidas de conservação adequadas, as suas populações podem diminuir, ou podem mesmo extinguir-se”, alertaram os autores do estudo.

O trabalho concluiu que a sua extinção pode ter “consequências imprevisíveis para os ecossistemas marinhos e de água doce”, nomeadamente produzir efeitos cascata nas cadeias alimentares aquáticas.

Susana Gonçalves sugeriu que “todos os esforços de gestão devem visar, tanto a proteção da diversidade fúngica, como a manutenção das suas funções-chave no ecossistema”, considerando que a conservação do ecossistema é fundamental para a proteção dos fungos.

Para os investigadores, um dos problemas relacionados com os fungos centra-se no facto de “os raros estudos centrados nas ameaças enfrentadas” por estes limitarem-se “quase exclusivamente a analisar os riscos decorrentes da libertação de fungicidas”.

No entanto, “muitos outros poluentes podem afetar os fungos e as suas delicadas redes, tais como produtos farmacêuticos, metais, microplásticos e eutrofização”, sustentou um dos autores do estudo, o alemão Hans-Peter Grossart.

“O que é ainda mais preocupante é que não sabemos quase nada sobre as outras ameaças que eles provavelmente enfrentam. Algumas das principais ameaças para os fungos aquáticos incluem a modificação e degradação do habitat, invasões biológicas e alterações climáticas”, apontou.

O estudo sugeriu medidas de gestão, como a redução e proibição da importação de nutrientes e contaminantes, o controlo das vias de introdução de espécies exóticas aquáticas invasoras, a renaturalização de massas de água e a restauração de habitats-chave, medidas essas que devem “considerar as particularidades dos fungos”.

LUSA/HN

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