Num documento apresentado quinta-feira na reunião final deste projeto, que contou com a colaboração de nomes como a ex-ministra da Saúde Maria de Belém, os bastonários das ordens dos médicos e farmacêuticos, especialistas em saúde pública e diversos investigadores, sugere-se ainda a criação de um painel de peritos para identificar e recomendar práticas e políticas adequadas à realidade portuguesa.
“Este é um projeto já com dois anos, com múltiplas facetas (…), que sintetiza a perspetiva dos peritos, a pesquisa (com a divulgação das boas práticas na diabetes) e um ‘policy brief’ que sintetiza o que apuramos [no terreno]”, explicou à Lusa António Vaz Carneiro, investigador principal da iniciativa D-Way e presidente do Instituto de Saúde Baseado na Evidência (ISBE).
O ISBE pretende ser um veículo que liga a Academia (Faculdade de Medicina e de Farmácia da Universidade de Lisboa) e a investigação, reunindo parceiros tão diferenciados como a indústria farmacêutica, associações de hospitalização privada, de farmácias, ou de promoção da saúde da proteção na doença.
Em declarações à Lusa, António Vaz Carneiro explicou que o projeto usou uma metodologia que pode ser aplicada noutras patologias, pois incorpora dados científicos (investigações), sócio-económicos e políticos, cruzando com a evidência do mundo real.
No fundo, explicou, “é como que um diálogo estruturado, com todos os atores, para concordar que a abordagem da doença deverá ser enquadrada por um conjunto de princípios e recomendações”.
“A inovação deste projeto é que só trabalhamos com evidência cientifica”, afirmou o especialista, sublinhando: “é relativamente fácil desenvolver medicamento para a diabetes (…), mas é mais difícil conseguir provar que alterando uma organização de um centro de saúde – criando, por exemplo, uma área só para diabetes, com um médico, um podologista e um dietista – esta transformação tem impacto mensurável”.
“Isto é essencial, porque eu tenho de conseguir medir, tenho um antes e um depois e temos de estar todos de acordo com o que vamos medir para poder afirmar depois se melhorou, se piorou, ou não aconteceu nada”, acrescentou.
No documento, os diversos especialistas consideram que a criação de uma rede colaborativa [cluster] com diversas entidades vai permitir “afirmar um sentido de comunidade, diversidade e complementaridade”, assim como de colaboração e empreendedorismo, “essencial para a resiliência, reforço e desenvolvimento dos agentes e das organizações”, escrevem.
Defendem ainda que este ‘cluster’ tem igualmente a vantagem de permitir partilhar recursos e apoios e que poderá ser “uma referência e uma porta de entrada para as várias áreas que, não tendo os cuidados aos indivíduos com diabetes como missão principal, são essenciais para estender colaborações e parcerias”.
Os municípios, os grupos parlamentares, unidades de saúde pública, locais de trabalho, estruturas residenciais de idosos, escolas, associações locais e os media são exemplos de organizações a envolver.
Por outro lado, defendem que a constituição e dinamização de um painel de peritos, “multidisciplinar e diverso”, pode ser “um projeto estratégico” para “identificar, discutir, concluir ou recomendar práticas, iniciativas e políticas adequadas à realidade portuguesa”.
No documento divulgado na quinta-feira, lembram que a diabetes “é uma área de cuidados paradigmática e central para o sistema de saúde”, que exige”o envolvimento de uma rede complexa de agentes” e que a governação na diabetes tem “planos, orientações e recomendações de elevada qualidade técnica/científica que são recursos-chave para o planeamento, organização e qualidade na prestação de cuidados”.
São identificados cinco eixos estruturantes e 16 projetos estratégicos de apoio à mudança, inovação e desenvolvimento para ajudar a melhorar os cuidados de saúde na diabetes em Portugal.
Entre os diversos projetos que apresentam está a criação de um painel de estudo e observação de pessoas com diabetes, cuidadores, profissionais e instituições, instrumento que consideram “fundamental para a análise longitudinal e a investigação prática, rápida e acessível” e que – defendem – constitui um “recurso valioso para a tomada de decisão”.
Como exemplo de projetos análogos em Portugal, indicam o painel “em casa observamos saúde” do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. A criação de um painel de recolha automática, ou regular, de dados eletrónicos de doentes para permitir a análise e monitorização atualizada de indicadores relevantes para a governação na diabetes, é outra das sugestões.
LUSA/HN
0 Comments