O plano desenvolvido pelo Centro Social Paroquial de Santa Margarida de Abrã é o seguinte: 30 famílias terão formação, primeiro teórica, depois prática, na lavandaria social pronta a equipar com os 10 mil euros atribuídos pela MSD, para poderem começar a trabalhar numa empresa da região, sendo que um ano é o tempo definido para integrar no mercado de trabalho 50% delas, pelo menos.
“Temos muito boa ligação com as empresas da região, que precisam dos recursos humanos, e a ideia é que os nossos vão já com alguma certificação, com algumas competências que possam facilitar a integração no mercado de mercado”, contou-nos a assistente social Nancy Martins. “No fundo, é dar formação, incentivar e preparar as pessoas para um ritmo de trabalho que não têm”, acrescentou o Padre António Pereira, presidente da instituição vencedora e do Centro de Reabilitação e Integração de Fátima, também em declarações ao HealthNews.
Segundo a responsável, é um projeto com um modelo replicável, neste tipo de negócio social ou noutros. “Na nossa comunidade, por exemplo, a lavandaria social fazia sentido pelo facto de as pessoas terem de se deslocar a outros concelhos para terem este serviço”, explicou.
O propósito de mudar a vida das famílias e “ajudar a quebrar ciclos de pobreza”, como referiu Nancy, justifica a atribuição do Prémio Maria José Nogueira Pinto, que há 10 anos distingue o trabalho de pessoas que se destacam no contexto da responsabilidade social.
O prémio da MSD incentiva “a não desistir e a ir frente”, sublinhou o responsável do projeto vencedor. Sem ele, “seria muito difícil a instituição avançar para este tipo de resposta”, “porque as instituições sociais não têm fundo de maneio para fazer este tipo de investimentos”, comentou a assistente social.
Nesta edição, o júri atribuiu ainda quatro menções honrosas aos seguintes projetos: “Direito ao Esquecimento”, da Acreditar – Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro, em Lisboa; “Aprender a crescer”, da Associação Mais Proximidade Melhor Vida, em Lisboa; “Unidade de Alzheimer – Dragoeiro”, do Centro Social e Paroquial de São Bento da Ribeira Brava, na Madeira; e “Arte Redonda – espaço de descoberta das Artes Visuais”, da Escola Dramática e Musical de Milheirós Maia, no Porto.
Esta foi a décima edição de uma homenagem que começou em 2012. “Este é um percurso que nunca expressará condignamente a dimensão social da homenageada, a Dr.ª Maria José Nogueira Pinto”, disse o diretor-geral da MSD Portugal, Vítor Virgínia, na cerimónia de ontem, no Centro Cultural de Belém. “Ainda assim, a MSD Portugal, com a humildade exigida nestas situações, orgulha-se de (…) ir além das suas responsabilidades mais diretas”, acrescentou.
“Na MSD, continuaremos focados na vida, em primeiro lugar”, afirmou Vítor Virgínia, que aproveitou ainda para salientar a importância da vacinação e prevenção em saúde. “É crítico manter uma aposta clara nesta matéria e atuar tão precocemente quanto possível”, frisou.
“Uma companhia com um propósito percebe a importância de investir na melhoria das comunidades onde se insere, e uma companhia global, como é o caso da MSD, terá que pensar mais amplo, naturalmente, e chegar de forma mais alargada aos objetivos de desenvolvimento sustentável, embora estes não sejam os dos chamados países em desenvolvimento. Mas, em cada um dos países desenvolvidos, existem muitas comunidades, muitas periferias, muitos códigos postais, muitos bairros onde esses objetivos fazem todo o sentido”, referiu a presidente do júri, Maria de Belém Roseira, desta vez obrigada a participar virtualmente.
Este ano, Jaime Nogueira Pinto quis comentar dois temas que marcam a atualidade: a eutanásia e o aborto. Começando por Portugal, disse: “Conhecemos o problema, reconhecemos e respeitamos os casos limite, onde se pretende legitimar esta porta que agora se abriu a um país com grandes carências e onde, em todas as classes sociais, muitos dos mais velhos se sentem inúteis, se sentem um fardo para outros, para os filhos, para as famílias, para a sociedade. A lei, nesse sentido, parece desenhada para eles. É como que um recado, é como que um convite. É uma porta aberta dos políticos, desprezando avisos e pareceres contrários, quer dos especialistas, habitualmente tão requisitados, celebrados e solicitados, quer doutros órgãos da soberania. E recusando, também, a consulta popular. A Zezinha não gostaria desta decisão e iria lutar contra ela.” Contrariamente, Maria José Nogueira Pinto “ficaria contente” com a decisão do Supremo Tribunal dos EUA sobre o aborto.
Ana Sofia Antunes, secretária de Estado da Inclusão, disse que espera poder acompanhar este prémio “por muitos e muitos anos”, que o Estado tem o dever de apoiar as entidades, instituições e associações que estão no terreno – “que muitas vezes tão melhor conhecem a realidade” – e que esta parceria com o setor social e solidário é o caminho que se pretende “continuar a trilhar”.
O Presidente da República, tal como os restantes intervenientes, recordou a vida e obra de Maria José Nogueira Pinto, que este ano completaria 70 anos. Depois de referir que, ao contrário de outras figuras também importantes, Maria José Nogueira Pinto nunca foi esquecida (não por causa do prémio, mas sim “por causa dela”), Marcelo Rebelo de Sousa condecorou-a com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito.
HN/Rita Antunes
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