As consultas serão levadas a cabo por uma equipa de especialistas em doenças do fígado e vão decorrer nos postos da Divisão de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (DICAD).
“Estão identificadas mais de 1.000 pessoas que tiveram contacto com o vírus da hepatite C. Algumas já tiveram tratamento, outras libertaram-se espontaneamente do vírus, mas há quem mantenha doença ativa e precise de tratamento”, descreveu Guilherme Macedo.
Em declarações à agência Lusa, o médico que dirige o serviço de Gastrenterologia do Hospital de São João, no Porto, apontou entre “250 a 300 pessoas como estimativa de intervenção numa primeira fase”.
Este projeto parte de outro “muito bem-sucedido no passado”, que visou “erradicar a hepatite C nos estabelecimentos prisionais”.
Guilherme Macedo referiu que, desde 2018, foram tratadas cerca de 200 pessoas no Estabelecimento Prisional do Porto, isto depois de serem observadas “muitas centenas”.
“Praticamente erradicamos a hepatite C no Estabelecimento Prisional do Porto. Nunca o teríamos conseguido sem ir lá. E agora é a mesma coisa. Vamos deslocar-nos aos postos de atendimento do DICAD para fazer consulta especializada, porque muitas destas pessoas não tem acesso aos hospitais e existem estigmas associados”, descreveu o médico.
Guilherme Macedo referiu que “existem verdadeiros nichos de agrupamentos de pessoas infetadas pelo vírus da hepatite C em meios vulneráveis” e sublinhou a importância de “ir ao terreno” com um projeto que também já foi implementado nos albergues do Porto.
“Queremos criar proximidade com a população que, de uma forma geral, tem menos acesso aos cuidados de saúde por condições sociais”, acrescentou.
Para concretizar este projeto, o CHUSJ assinou hoje um protocolo com a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-Norte).
O objetivo é estabelecer “um plano organizado e observação e tratamento das pessoas com comportamentos aditivos e dependências e que habitualmente são acompanhados no DICAD” para “identificar, tratar e curar a hepatite C”.
Além da consulta, o programa inclui a realização de elastografias, um procedimento clínico que permite perceber se o fígado tem a elasticidade normal ou está mais rígido.
“Quando está mais rígido significa que tem doença crónica avançada”, explicou o médico.
À ARS-Norte cabe assegurar a parte logística do projeto, enquanto ao CHUSJ cabe a parte assistencial.
O Dia Mundial das Hepatites assinala-se na quinta-feira.
A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia alertou hoje para a necessidade de um rastreio universal às hepatites e pediu maior celeridade e menos burocracia no acesso aos tratamentos, que nalguns casos ainda demoram meses.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu como meta eliminar a Hepatite C até 2030.
LUSA/HN
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