A presidente daquela Organização Não Governamental, Susana Ramos Pereira, explicou à Lusa que os números mostram “que há casos que se estão a destapar”.
Apesar de acreditar que o crime de violência doméstica está a aumentar, a responsável disse não existirem estudos que confirmem, mas a procura de ajuda na sua associação dá-lhe essa perceção.
A pandemia da Covid-19 obrigou as vítimas a “viver dois anos sob o jugo do agressor”, o que contribuiu para um “maior isolamento e silenciamento das vítimas, impedindo-as de denunciar os abusos, mas mostrando-lhes também que teriam de sair logo que possível deste ciclo de agressão”.
Este cenário fez com que as vítimas “tomassem uma decisão de denunciar”, acrescentou. “Estão a aparecer mais casos e temos alguma reincidência de pessoas que desistiram dos processos e agora voltaram a pedir ajuda. Também está a aumentar a comunidade brasileira na região e temos tido mais pedidos de ajuda destes imigrantes”, revelou a presidente da Mulher Século XXI.
Entre os 114 novos casos, 11 são reincidências. Trata-se de 112 mulheres vítimas de violência doméstica que procuraram ajuda, seis idosas, quatro homens, três idosos.
A Mulher Século XXI contabiliza ainda 33 acolhimentos de emergência na sua casa: 18 mulheres e 15 dependentes. “A procura é bastante, mas só temos espaço para oito pessoas”, adiantou.
O Gabinete Girassol abriu, em novembro, para dar apoio psicológico a crianças e jovens até aos 18 anos vítimas de violência doméstica nos dez concelhos da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL), atendeu 51 novos casos, dos quais 30 são rapazes. “Temos situações bastante graves”, lamentou, ao salientar que a violência doméstica não está a melhorar na região, nem a nível nacional.
Este ano, informou, foram mortas 17 pessoas em contexto de violência doméstica – 16 mulheres e uma criança – e em todo o ano de 2021 foram assassinadas nas mesmas circunstâncias 23 pessoas: 16 mulheres, duas crianças e cinco homens (estatísticas oficiais do portal da violência doméstica da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género).
A Mulher Século XXI é uma entidade da Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica, e responsável pelo Centro de Atendimento a Vítimas de Violência Doméstica de Leiria, pela Resposta de Acolhimento de Emergência e pelo RAP – Resposta de Apoio Psicológico a crianças e jovens vítimas de Violência Doméstica da CIMRL (Gabinete Girassol e gabinetes itinerantes).
Desde 2017, data em que a associação tem registos, já foram acompanhadas mais de 3.000 vítimas de violência doméstica. “Algumas ainda nos procuram”, revelou.
LUSA/HN
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