“De alguma forma, esta demissão é o símbolo do fracasso e do desastre desta maioria absoluta”, afirmou André Ventura, criticando “a teimosia do primeiro-ministro em manter, contra todas as circunstâncias, a ministra da Saúde, em manter a linha que tinha vindo a ser definida, mesmo sabendo que os serviços não estavam a responder, que não havia massa humana para responder e que os portugueses estavam crescentemente insatisfeitos”.
O líder do Chega reagia, em conferência de imprensa na sede nacional do partido, em Lisboa, à demissão da ministra da Saúde, Marta Temido, noticiada esta madrugada.
“Esta era uma situação absolutamente evitável, não fosse a degradação permanente, consecutiva, a que o Chega chamou a atenção, dos serviços de saúde, dos cuidados de saúde e da situação política da própria ministra”, salientou, lembrando a moção de censura ao Governo que o partido apresentou no parlamento, e que viu chumbada, pois foi a única bancada a votar a favor.
Quanto ao sucessor no cargo, Ventura defendeu que “tem de ter experiencia da área da saúde, tem de ser capaz de ouvir os profissionais de saúde e não estar em guerrilha permanente com as ordens profissionais ou com os sindicatos”.
Para o presidente do partido de extrema-direita, o próximo ministro da Saúde deve também “ser capaz de deixar de lado a cegueira ideológica e as amarras que impedem os serviços de saúde de se interligar, de se abrirem ao cooperativo, ao privado, ao social, sem esta obsessão quase ridícula por ter um serviço publico exclusivo” que se traduz em “serviços permanentemente encerrados, pessoas sem serviços de saúde”.
“O próximo ministro da Saúde ou a próxima ministra da Saúde têm de ter a capacidade de fazer essa reforma profunda do SNS, essa reforma profunda do nosso sistema de saúde sem cegueira ideológica, a obrigar a cumprir prazos, a obrigar os centros e os hospitais a estarem abertos, a garantir as condições de recrutamento, quer em Portugal, quer fora, de médicos e de profissionais que não envergonhem o serviço de saúde português”, argumentou.
Quanto ao prazo para a substituição de Marta Temido, André Ventura defendeu que “não pode demorar muito tempo” e o país “não pode ficar até ao Orçamento do Estado à espera que isso aconteça”.
Segundo Ventura, a solução não deverá passar pelo secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, até porque este governante “deveria colocar também o seu lugar à disposição” por ser “corresponsável pelos casos que se têm sucedido na saúde”.
O líder do Chega considerou haver outros dois ministros que “não têm condições” para continuar no Governo e deveriam ser afastados, Fernando Medina (Finanças) e Pedro Nuno Santos (Infraestruturas e Habitação), sendo esta uma oportunidade para essa remodelação.
E pediu “coragem” ao primeiro-ministro “para fazer essas mudanças”, sugerindo que António Costa, “o grande responsável da crise na saúde”, pode assumir a pasta da Saúde “extraordinariamente”.
Aos jornalistas, André Ventura criticou também que a demissão tenha sido comunicada de madrugada, “a ver se a coisa fica mais escondida”.
A demissão da ministra da Saúde Marta Temido, anunciada hoje de madrugada, constitui a primeira baixa de ‘peso’ no XXIII Governo Constitucional, que tomou posse há exatamente cinco meses, em 30 de março.
Marta Temido apresentou a demissão por entender que “deixou de ter condições” para exercer o cargo.
A demissão, já aceite pelo primeiro-ministro, foi noticiada de madrugada, mas hoje de manhã fonte oficial do gabinete de António Costa disse à Lusa que a substituição da ministra da Saúde “não será rápida”, adiantando que o chefe do Governo gostaria que fosse esta governante a concluir o processo de definição da nova direção executiva do SNS.
Marta Temido iniciou funções como ministra da Saúde em outubro de 2018, sucedendo a Adalberto Campos Fernandes, e foi ministra durante os três últimos três executivos, liderados pelo socialista António Costa.
Numa nota divulgada hoje, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, assumiu que aguarda o pedido de exoneração da ministra da Saúde e a proposta de nomeação do seu substituto.
LUSA/HN
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