Subvariantes anteriores da Ómicron dão proteção contra infeção pela BA.5

1 de Setembro 2022

Pessoas vacinadas contra a Covid-19 que foram infetadas com as primeiras subvariantes Ómicron do coronavírus SARS-CoV-2 apresentam uma proteção quatro vezes superior em relação a quem recebeu a vacina mas não foi infetado, estima um estudo nacional divulgado na quarta-feira.

Segundo o Instituto de Medicina Molecular (iMM), este é um dos primeiros estudos a nível mundial que analisa, no grupo das pessoas vacinadas, a probabilidade de se infetarem com a subvariante atualmente em circulação, a BA.5, estimando o grau de proteção conferido por infeções com variantes anteriores e utilizando dados do mundo real.

“As pessoas vacinadas que foram infetadas pelas subvariantes Ómicron BA.1 e BA.2 têm uma proteção contra a infeção com a subvariante BA.5, em circulação desde junho, cerca de quatro vezes superior a pessoas vacinadas que não foram infetadas em nenhuma ocasião”, explicou Luís Graça, investigador principal do iMM e professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Os resultados do estudo foram publicados hoje na revista científica New England Journal of Medicine.

Segundo o especialista, as infeções registadas em 2020 e 2021 com as variantes anteriores do SARS-CoV-2 (linhagem ancestral, variante Alfa e Delta) também “conferem proteção contra a infeção para a variante Ómicron mais recente”, embora não seja tão elevada quanto a dos infetados com as variantes BA.1 e BA.2, no início de 2022.

“Estes resultados são muito importantes porque as vacinas adaptadas que estão em desenvolvimento clínico e avaliação são baseadas na subvariante BA.1, que foi dominante em janeiro e fevereiro de 2022”, salientou Luís Graça.

O especialista, que integra a Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19 (CTVC) da Direção-Geral de Saúde (DGS), sublinhou que, até agora, não era conhecido o grau de proteção que esta subvariante conferia contra a subvariante que está neste momento em circulação.

“Estes resultados mostram que a proteção é muito significativa e permitem antecipar o benefício das vacinas adaptadas” contra a covid-19, acrescentou Luís Graça.

De acordo com Manuel Carmo Gomes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e que também faz parte da CTVC, na realização deste estudo foi usado o registo nacional da covid-19 para obter a informação de todos os casos de infeções por SARS-CoV-2 na população com mais de 12 anos residente em Portugal.

A variante do vírus de cada infeção foi determinada tendo em conta a data da infeção e a variante dominante nessa altura, adiantou Manuel Carmo Gomes, ao referir que, nesta investigação, foram consideradas as infeções causadas pelas primeiras variantes da Ómicron BA.1 e BA.2 em conjunto.

“Com estes dados, analisámos a probabilidade de uma pessoa voltar a ser infetada pela variante atual, o que nos permitiu calcular a percentagem de proteção conferida pelas infeções prévias”, referiu João Malato, estudante de doutoramento do grupo de Luís Graça e primeiro autor do estudo.

Para Válter Fonseca, co-autor deste estudo e coordenador da CTVC da DGS, o estudo permitiu demonstrar, no período analisado, que a infeção prévia em pessoas vacinadas – a chamada imunidade híbrida – continua a conferir proteção para as variantes que são conhecidas pela capacidade de evadir a resposta imunitária, como a atualmente dominante em Portugal.

O estudo foi realizado no iMM e no Centro de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em colaboração com a DGS, e foi financiado pelo programa Horizon 2020 Research and Innovation da União Europeia, pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pelo National Institute of Health.

Segundo o último relatório do Instituto de Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) sobre a diversidade genética do coronavírus que provoca a doença Covid-19, a BA.5 (incluindo as suas várias sublinhagens) é dominante em Portugal desde maio, sendo atualmente responsável por 94% dos contágios.

Já a linhagem BA.2 da variante Ómicron, que chegou a ser a dominante entre o final de fevereiro e a primeira quinzena de maio, tem registado uma frequência continuamente decrescente, representando agora 2% das infeções.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

IGAS processa Eurico Castro Alves

A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) anunciou hoje ter instaurado em novembro de 2024 um processo ao diretor do departamento de cirurgia do Hospital Santo António, no Porto.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights