Segundo o Instituto de Medicina Molecular (iMM), este é um dos primeiros estudos a nível mundial que analisa, no grupo das pessoas vacinadas, a probabilidade de se infetarem com a subvariante atualmente em circulação, a BA.5, estimando o grau de proteção conferido por infeções com variantes anteriores e utilizando dados do mundo real.
“As pessoas vacinadas que foram infetadas pelas subvariantes Ómicron BA.1 e BA.2 têm uma proteção contra a infeção com a subvariante BA.5, em circulação desde junho, cerca de quatro vezes superior a pessoas vacinadas que não foram infetadas em nenhuma ocasião”, explicou Luís Graça, investigador principal do iMM e professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Os resultados do estudo foram publicados hoje na revista científica New England Journal of Medicine.
Segundo o especialista, as infeções registadas em 2020 e 2021 com as variantes anteriores do SARS-CoV-2 (linhagem ancestral, variante Alfa e Delta) também “conferem proteção contra a infeção para a variante Ómicron mais recente”, embora não seja tão elevada quanto a dos infetados com as variantes BA.1 e BA.2, no início de 2022.
“Estes resultados são muito importantes porque as vacinas adaptadas que estão em desenvolvimento clínico e avaliação são baseadas na subvariante BA.1, que foi dominante em janeiro e fevereiro de 2022”, salientou Luís Graça.
O especialista, que integra a Comissão Técnica de Vacinação Contra a Covid-19 (CTVC) da Direção-Geral de Saúde (DGS), sublinhou que, até agora, não era conhecido o grau de proteção que esta subvariante conferia contra a subvariante que está neste momento em circulação.
“Estes resultados mostram que a proteção é muito significativa e permitem antecipar o benefício das vacinas adaptadas” contra a covid-19, acrescentou Luís Graça.
De acordo com Manuel Carmo Gomes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e que também faz parte da CTVC, na realização deste estudo foi usado o registo nacional da covid-19 para obter a informação de todos os casos de infeções por SARS-CoV-2 na população com mais de 12 anos residente em Portugal.
A variante do vírus de cada infeção foi determinada tendo em conta a data da infeção e a variante dominante nessa altura, adiantou Manuel Carmo Gomes, ao referir que, nesta investigação, foram consideradas as infeções causadas pelas primeiras variantes da Ómicron BA.1 e BA.2 em conjunto.
“Com estes dados, analisámos a probabilidade de uma pessoa voltar a ser infetada pela variante atual, o que nos permitiu calcular a percentagem de proteção conferida pelas infeções prévias”, referiu João Malato, estudante de doutoramento do grupo de Luís Graça e primeiro autor do estudo.
Para Válter Fonseca, co-autor deste estudo e coordenador da CTVC da DGS, o estudo permitiu demonstrar, no período analisado, que a infeção prévia em pessoas vacinadas – a chamada imunidade híbrida – continua a conferir proteção para as variantes que são conhecidas pela capacidade de evadir a resposta imunitária, como a atualmente dominante em Portugal.
O estudo foi realizado no iMM e no Centro de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em colaboração com a DGS, e foi financiado pelo programa Horizon 2020 Research and Innovation da União Europeia, pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pelo National Institute of Health.
Segundo o último relatório do Instituto de Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) sobre a diversidade genética do coronavírus que provoca a doença Covid-19, a BA.5 (incluindo as suas várias sublinhagens) é dominante em Portugal desde maio, sendo atualmente responsável por 94% dos contágios.
Já a linhagem BA.2 da variante Ómicron, que chegou a ser a dominante entre o final de fevereiro e a primeira quinzena de maio, tem registado uma frequência continuamente decrescente, representando agora 2% das infeções.
LUSA/HN
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