“Os enfermeiros até se podem candidatar, mas depois não querem trabalhar num serviço em que a falta de condições de trabalho é por demais conhecida”. Uma situação que, afiança, “está a aumentar a pressão sobre os enfermeiros que estão ao serviço, e que não raras vezes são obrigados a seguir turno, porque as escalas não estão completas”. O drama de alguns enfermeiros é tal que “há casos em que estão divididos entre o risco de cometer um crime por omissão de auxílio aos doentes ou um de exposição ou abandono dos filhos menores”.
O presidente do SE garante que, em alguns casos, a situação é dramática. “Há colegas que, muitas vezes, são confrontados com a necessidade de prolongar a jornada de trabalho, porque faltam enfermeiros para a escala seguinte, mas têm filhos menores e não têm com quem os deixar”, assegura. A verdade, diz Pedro Costa, “é que se o enfermeiro chegar ao fim do turno e perceber que a escala seguinte não está completa e sair tranquilamente, deixando os doentes sem assistência podem estar a cometer um crime de omissão de auxílio”. Porém, recorda, “se deixarem os filhos, menores de idade, sem ninguém que cuide deles para continuarem a trabalhar, podem ser acusados do crime de abandono”. “E a solução não passa, nem pode passar, por trazer os filhos para o serviço, por todos os motivos incluindo o de ficarem expostos aos mais variados riscos que existem num hospital”, conclui o presidente do SE.
A falta de enfermeiros nesta unidade hospitalar, assegura Pedro Costa, já dura há vários meses, em particular nos serviços de Urologia e Internamento Geral e já originou situações caricatas em que enfermeiros que estiveram de baixa prolongada já se apresentaram ao serviço sem nunca terem sido substituídos. “A administração do Amadora-Sintra tem cerca de 100 vagas para preencher na área de enfermagem, em algumas situações há mais de dois anos, e não as conseguem preencher”, acrescenta o presidente do SE. O problema, adianta, é que “até podem existir enfermeiros que se candidatam para o Amadora-Sintra, mas que o fazem também para outras unidades dada a oferta existente. Acabando por optar por outros hospitais, pois ninguém quer trabalhar numa unidade em que sabem que as condições estão muito depauperadas”.
“Desde há muito tempo que há serviços onde os turnos são assegurados apenas por três enfermeiros para 32 doentes, chegando ao limite de, desde o início da pandemia, as próprias enfermeiras em funções de gestão estarem incluídas nas escalas de turno em que nem os rácios mínimos definidos na legislação são assegurados.”, explica o presidente do Sindicato dos Enfermeiros – SE. Dos 40 enfermeiros que deveriam estar integrados nos serviços de Urologia e Internamento Geral há menos dez ao serviço. “Seis estão de baixa ou licença de amamentação e quatro em gozo de férias”, frisa, sendo que esta situação vivida é transversal a vários serviços da instituição.
Pedro Costa garante que “é impossível assegurar cuidados de saúde com o mínimo de garantia de segurança, sem aumentar o risco de erro e, sobretudo, sem levar as equipas de enfermagem à exaustão”. “Temos relatos de casos absurdos em que os enfermeiros contam com a benevolência de outros profissionais nomeadamente médicos, que asseguram vigilância dos doentes enquanto os enfermeiros param uns minutos para almoçar ou ir à casa de banho, caso contrário nem isso conseguem fazer”, assegura.
PR/HN
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