Prémio Norte-Sul para COVAX é “reconhecimento ao multilateralismo”

18 de Outubro 2022

O presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI), José Manuel Durão Barroso, afirmou hoje que a atribuição do Prémio Norte-Sul ao mecanismo COVAX de vacinação global anti-covid é um "reconhecimento ao multilateralismo" num momento de "fricção" internacional.

Ao discursar na cerimónia de entrega do Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa, que decorreu hoje na Sala do Senado do Parlamento português, Durão Barroso afirmou que o trabalho conjunto de várias instituições na distribuição mundial das vacinas contra a covid-19 traduz a vantagem do multilateralismo, pelo que o prémio recebido pela COVAX “é também uma distinção e um reconhecimento ao multilateralismo”.

“Num momento como o que vivemos atualmente, geopoliticamente determinado por tanta fricção, é importante, apesar das divergências, que sejamos capazes de manter alguns mecanismos multilaterais, sobretudo quando se trata de dar resposta a problemas globais”, concluiu.

“Até ao momento, a COVAX distribuiu quase 1.800 milhões de doses de vacinas em 146 países, jurisdições ou economias. Destas 1.800 milhões de doses, 1.600 milhões (aproximadamente 90%), foram para os 92 países com menos rendimento. De outra forma, sem o COVAX, estas pessoas não teriam tido acesso a vacinas. Fizemos um trabalho de que nos orgulhamos, mas reconhecemos que há mais a fazer para o futuro. Estamos orgulhosos pela contribuição multilateral”, acrescentou.

Durão Barroso destacou que o envolvimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), GAVI e CEPI (Coalition for Epidemic Preparedness Innovations) “permitiu encontrar a solução global que o mundo precisava para ultrapassar esta crise” da pandemia.

“Isto não teria sido possível sem o trabalho dedicado e incansável das inúmeras pessoas que compõem a GAVI e as nossas organizações irmãs – OMS, UNICEF e a CEPI. Gostaria de dedicar este prémio a cada um dos homens e mulheres que, durante este período, com grande ‘stress’ e tensão, ajudaram a atingir estes objetivos humanitários que são os do COVAX”, sustentou.

Falando em nome das instituições que integraram a COVAX, Durão Barroso lembrou que o apoio aos países mais vulneráveis só foi possível pela “experiência” de cada uma das organizações envolvidas acumulada nos últimos 20 anos.

“A GAVI, impulsionada pela sua missão de proteger as vidas de milhões de pessoas e a ajudar a tirá-las da pobreza, demonstrou ser exatamente esse tipo de compromisso e de propósito que fez a COVAX funcionar”, sublinhou.

“Nas duas últimas décadas, isso permitiu que a GAVI ajudasse os países a proteger mais de 1.000 milhões de crianças e, ao fazê-lo, evitar mais de 16 milhões de mortes. Num ano normal, digamos assim, a GAVI ajuda a vacinar mais de metade das crianças do mundo”, reivindicou Durão Barroso.

“Quando tivemos de lidar com a covid-19, ficou claro que tínhamos de lidar com os países fabricantes de vacinas, com os próprios fabricantes, e a nossa experiência de criar mercados de volume a baixo custo seria fundamental para um acesso global e equitativo às vacinas para combater a pandemia. Mais, a COVAX conseguiu garantir que a capacidade de pagamento não determinasse se as pessoas receberiam ou não a proteção que precisavam contra a covid-19”, realçou.

Face a condições que, defendeu Durão Barroso, serem “extremamente difíceis” e que, por essa razão, “explicam algumas falhas”, a COVAX, prosseguiu, conseguindo entregar as primeiras doses de vacinas para países de baixo rendimento apenas 39 dias depois daquelas que foram distribuídas em países mais ricos.

O Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa distingue anualmente duas personalidades ou organizações pelo seu compromisso com os Direitos Humanos, com a Democracia e com o Estado de Direito, contribuindo para o diálogo Norte-Sul, fomentando a solidariedade, a interdependência e as parcerias.

Segundo o júri do prémio, o Mecanismo COVAX “contribuiu para uma maior equidade quando se trata de assegurar a proteção da vida das pessoas e salvaguardar a saúde pública”.

O antigo primeiro-ministro português e ex-Presidente da Comissão Europeia disse-se “também honrado” por o prémio ser igualmente atribuído a Zarifa Ghafari, antiga presidente de câmara de uma localidade no Afeganistão que teve de escapar do país após a tomada do poder pelos talibãs, o que simboliza a luta das mulheres no Afeganistão.

LUSA/HN

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