O estudo, hoje divulgado, analisou a participação de mulheres de 30 países europeus em rastreios oncológicos do cancro da mama (com realização de mamografia) e do cancro do colo do útero (através de citologia), tendo as investigadoras Carlota Quintal e Micaela Antunes concluído que continua a haver “grande desigualdade na realização destes rastreios entre mulheres com maior e menor rendimento”.
As conclusões do estudo foram apresentadas num artigo científico publicado na revista Social Science & Medicine, que destaca também “situações de sobreutilização (realização excessiva de exames) e de subutilização extrema (ausência de qualquer exame), em mulheres que integram os grupos-alvo que devem ser sujeitos a rastreamento com regularidade”.
Segundo Carlota Quintal, “há evidência de que os rastreios do cancro da mama e do colo do útero estão fortemente associados à redução na morbilidade e mortalidade relacionadas com o cancro, sendo relevante monitorizar as taxas de participação entre os grupos-alvo, bem como as desigualdades”.
“A nível mundial, o cancro da mama é o tipo de cancro mais prevalente entre as mulheres, enquanto o cancro do colo do útero é o quarto cancro mais comum entre as mulheres”, referiu.
As investigadoras do Centro de Investigação em Economia e Gestão e docentes da Faculdade de Economia da UC analisaram o rastreamento em 30 países recorrendo a dados disponibilizados pelo European Health Interview Survey sobre rastreios do cancro da mama e do colo do útero realizados entre 2013 e 2015.
Entre estes países, Bulgária e Roménia sobressaem com baixos níveis de participação e elevada desigualdade no acesso entre mulheres com maior e menor rendimento. No que respeita às maiores taxas de participação, na mamografia destacam-se a Suécia, a França e a Finlândia, e na citologia a Chéquia, a Áustria e o Luxemburgo.
Micaela Antunes referiu que Portugal “apresenta uma das mais elevadas taxas de participação no caso da mamografia no grupo-alvo (entre os 50 e os 69 anos), logo a seguir à Finlândia, sem sinais de desigualdade, quer no caso do rastreio dentro do intervalo recomendado (dois anos), quer no da subutilização extrema”.
Menos favoráveis são os resultados relativos à realização de citologia, explicou Micaela Antunes, acrescentando que, no entanto, Portugal “surge no grupo de países com provável sobreutilização (percentagem de mulheres a realizar exame nos últimos 12 meses acima do valor esperado), fenómeno este concentrado nas mulheres com mais rendimento”.
Aludindo à frequência da realização destes exames de rastreio, Carlota Quintal sublinhou que “os resultados são muito claros em relação à subutilização extrema (mulheres no grupo-alvo que nunca fizeram exame), encontrando-se estes casos concentrados nas mulheres mais pobres”.
Por outro lado, “a análise é também clara quanto à sobreutilização (relacionada com a frequência excessiva de exames médicos) em ambos os rastreios, sendo um fenómeno generalizado na Europa”, sendo que, em alguns países, “parece ser transversal a todos os grupos de rendimento” e, noutros, “é um fenómeno associado a mulheres com mais rendimento”, acrescentou.
Neste âmbito, Micaela Antunes defendeu ser importante “dar mais atenção às diversas situações identificadas neste quadro de análise, nomeadamente a subutilização extrema nas faixas etárias próximas da idade limite definida para os rastreios”, porque estas são mulheres em risco de transitarem para uma situação que é definida como “oportunidade perdida”.
A investigadora considerou também que “a sobreutilização, relacionada quer com a frequência de rastreio superior à recomendada, quer com a realização do rastreio antes ou depois da idade recomendada, deve ser investigada”, não só pelo desperdício de recursos que representa, mas também “pela necessidade de assegurar que as mulheres estão a fazer escolhas informadas”, sublinhou.
LUSA/HN
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