“Temo (…) que este tipo de práticas possa encontrar recetores desejosos de encontrar uma solução milagrosa, mas isso não se pode considerar que esteja no domínio da ciência”, salientou à agência Lusa o bastonário da OP.
Segundo Francisco Miranda Rodrigues, no caso das chamadas constelações familiares, uma terapia desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger, “é importante que as pessoas estejam esclarecidas que é uma prática que não é do domínio científico”.
As constelações familiares são consideradas um método para ajudar a resolver conflitos que atravessam gerações, através de terapia desenvolvida, em muitos casos, em sessões de grupos de pessoas que representam diferentes papéis familiares, com o objetivo de ultrapassar situações de conflito pessoal ou familiar.
Este método tenta explicar como uma série de comportamentos, que são herdados de geração em geração, afetam negativamente os membros de uma família, podendo também contribuir para doenças como a depressão ou dificuldades psicossociais de uma pessoa.
“Não é uma intervenção psicológica, nem algo que deve ser utilizado por pessoas que estão à procura de uma resposta de apoio na área da saúde mental. Isso não é de certeza”, afirmou o bastonário.
Um alerta que uma `consteladora familiar´, que exerce há cerca de 15 anos em Portugal, considerou à Lusa resultar da “ignorância” sobre como funciona esse tipo de terapia por desconhecimento da “base científica das constelações”, que estão a ter uma “divulgação e uma expansão exponencial” no país.
“Todas as terapias são complementares. Não há nenhuma terapia que tenha a verdade absoluta”, salientou a “psicóloga transpessoal”, que pediu para não ser identificada, alegando não querer “entrar nessa guerra” que “já não é nova” com a OP.
Definiu as constelações familiares, área em que também é formadora, como “um caminho de abertura da consciência”.
Segundo disse, as constelações são “abordagens mais abrangentes” do que a psicoterapia, salientando que a adesão a essa prática também “mostra que as pessoas já recorreram a muito sítio e não tiveram as respostas” que necessitavam.
“Eu já tive muitos pacientes que andam há 10 ou 15 anos em consultas de psicoterapia e que, em duas ou três constelações, ficam com a vida resolvida”, assegurou.
Atualmente “tenho a minha agenda completamente cheia até julho do próximo ano. Acabei de fazer um evento com 50 pessoas e vou fazer, em dezembro, um evento com 100 pessoas”, afirmou ainda a `consteladora familiar´, reconhecendo que essa prática não está sujeita a regulação em Portugal.
Adiantou ainda que as pessoas que recorrem a si se enquadram em três grandes grupos – com conflitos nas relações familiares, com depressão e outras doenças mentais e com doenças como o cancro – e que encontram nesta terapia muitas vezes uma resposta complementar à medicina tradicional.
“Neste momento e felizmente, tenho psicólogos de uma área mais inovadora que querem fazer a formação em constelações porque perceberam que psicologia não resolveu tudo, como a medicina tradicional não resolve tudo”, afirmou.
A preocupação da OP não é nova, uma vez que já em 2019 emitiu um parecer que refere que as constelações familiares “não constituem um modelo terapêutico reconhecido pelas ciências psicológicas”, assim como “não apresentam enquadramento científico, teórico ou académico, nem socioprofissional”.
O documento explica que, numa sessão desta prática, normalmente em grupo, “um cliente apresenta um tema e o facilitador de constelações familiares solicita informações factuais sobre a família”.
“De seguida o cliente escolhe, entre outros membros do grupo, alguns para representar elementos da sua família ou ele mesmo. Guiado pelas reações desses representantes, o facilitador conduz os representantes até uma solução que melhore as relações familiares”, refere o parecer.
Segundo o mesmo documento, “no entanto, não há informação e, muito menos, estudos científicos que permitam compreender exatamente o que é e como funcionam estas constelações familiares ou como se avalia a sua eficácia”, que não estão ainda sujeitas a qualquer “tipo de regulamentação profissional”.
O bastonário alertou que o agravamento da saúde mental da população portuguesa devido à pandemia da Covid-19 pode constituir um “terreno fértil” para este tipo de práticas sem enquadramento científico e profissional.
“Vemos, por um lado, as pessoas a necessitarem mais de apoio e a procurarem-no mais e, por outro, uma camada da população com muita dificuldade em encontrar esse apoio acessível” nos serviços públicos de saúde, afirmou.
Francisco Mirando Rodrigues salientou também que as pessoas têm “todo o direito de recorreram ao que entenderem”, mas cabe à OP “esclarecer a opinião pública sobre o que esta prática é e não é e dos riscos que podem existir”.
“Estamos preocupados de uma forma mais geral com muitas outras práticas que podem ser confundidas com evidência científica e não o são”, reconheceu o responsável da OP, que pretende lançar, no próximo ano, uma campanha para “fazer chegar de uma forma mais robusta informação diretamente aos cidadãos” sobre esse assunto.
LUSA/HN
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