Numa carta dirigida à diretora clínica do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, com conhecimento da presidente do Conselho de Administração, os 44 médicos signatários afirmam que o hospital “vive, uma vez mais, momentos de enorme dificuldade na nobre missão de prestar a melhor atividade assistencial à população que a ele recorre”.
“Depois de, com elevado esforço e sentido de dever, termos superado uma pandemia que exigiu a todas as instituições do Serviço Nacional de Saúde (SNS) o melhor dos seus profissionais, olhamos para o futuro com enorme preocupação e apreensão”, afirmam na carta divulgada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
Os médicos afirmam na carta que, “às portas de mais um inverno, cuja conjugação de fatores faz sentir uma elevadíssima pressão na atividade assistencial”, não podem deixar de evidenciar “as ausências de rumo e de estratégia que, face às dificuldades inerentes ao próprio SNS, permitiriam enfrentar os difíceis momentos que se avizinham com o melhor das capacidades do HFF e dos seus profissionais”.
“Esta situação reflete-se no internamento e, por conseguinte no Serviço de Urgência, em condições de trabalho para profissionais, e de segurança para os doentes, não toleráveis”, salientam.
Os profissionais lamentam que, “apesar das múltiplas propostas de restruturação submetidas ao longo dos últimos anos”, no sentido de promover reformas que possibilitem aos serviços melhorar a qualidade e eficiência da sua atividade assistencial, não tenha havido por parte dos órgãos dirigentes do hospital “abertura ou acolhimento para as mesmas, perpetuando deficiências há muito identificadas”.
“Em contraponto, somos confrontados com medidas avulsas, desprovidas de sentido ou debatidas em órgãos intermédios, cuja comunicação e implementação são geradoras de entropia e desmotivação junto dos diversos profissionais”, sublinham os médicos, que, por estas razões, apresentaram a demissão dos respetivos cargos de chefia.
Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, manifestou solidariedade com os médicos, afirmando que estes têm vindo a alertar “há vários meses” para “as graves deficiências” em termos da constituição das equipas.
Roque da Cunha salientou que este hospital, que tem como responsabilidade cerca de 600.000 portugueses, dos quais cerca de 150.000 sem médico de família, tem “uma grande pressão na procura”.
Sublinhou que o SIM “apela veementemente” ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, “que ouça estes gritos de alerta”, criando condições para contratar médicos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Não adianta dizer que as pessoas recorrem em demasia ao serviço de urgência, porque não tendo alternativa, particularmente numa região onde há tantos utentes sem médico de família” têm de recorrer ao hospital.
Além das pessoas que têm sintomas ligeiros, disse, “há cada vez mais pessoas que têm sintomas graves”.
“São idosos que precisam de maiores cuidados. Portanto, é necessário que as equipas sejam robustecidas e que se cesse a sangria de médicos que saem do Serviço Nacional de Saúde”, disse o dirigente sindical, afirmando que no ano passado cerca de 1.000 médicos pediram a rescisão e que este ano esse número será ultrapassado “com toda a certeza”.
LUSA/HN
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