Em declarações à agência Lusa, José Lourenço, da comissão de utentes do Seixal, concelho abrangido pelos serviços do hospital de Almada, no distrito de Setúbal, considera que a pressão nas urgências hospitalares é uma consequência do trabalho que não tem sido feito ao nível da organização dos cuidados de saúde primários.
“As pessoas vão para a urgência hospitalar porque os cuidados de saúde primários não têm capacidade de resposta, porque também eles estão desfalcados”, disse.
Segundo José Lourenço, também nos hospitais há uma “enorme falta de recursos humanos” porque a profissão perdeu atratividade.
“O Governo parece querer passar para os privados uma função do Serviço Nacional de Saúde com um custo acrescido para os contribuintes”, referiu.
Na segunda-feira, os chefes de equipa do Serviço de Urgência Geral (SUG) do Hospital Garcia de Orta apresentaram a demissão dos cargos em protesto com a escala de dezembro, que consideram estar “abaixo dos mínimos”, e hoje, numa reunião com os médicos especialistas, a administração assegurou que estão a ser tomadas medidas para o reforço da equipa.
Numa carta dirigida ao diretor clínico do Hospital Garcia de Orta, à presidente do Conselho de Administração e à diretora do Serviço de Urgência, os profissionais explicavam que na escala prevista constam vários dias com um número de elementos abaixo dos mínimos (um ou dois elementos apenas) para garantir o bom funcionamento do serviço.
“Não podemos, como chefes de equipa, assistentes hospitalares de medicina interna e médicos deste hospital, aceitar chefiar uma equipa de urgência nas presentes condições de trabalho e paupérrimas condições de prestação de cuidados no SUG”, salientavam na missiva, tornada pública pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
Os chefes de equipa adiantavam ainda que a escala de dezembro, à semelhança das escalas apresentadas nos últimos meses, normaliza uma equipa constituída por quatro elementos (ou menos), número que consideram insuficiente para garantir todos os postos necessários para o bom funcionamento do SUG e a prestação de cuidados em segurança para os doentes e profissionais.
Os médicos salientavam também que, entre estes quatro elementos, “muitas vezes estão contemplados colegas sem autonomia para exercer”.
O HGO iniciou a sua atividade em setembro de 1991, em substituição do antigo Hospital da Misericórdia de Almada/Hospital Distrital de Almada e, segundo informação oficial, serve atualmente uma população estimada em cerca de 350 mil habitantes dos concelhos de Almada e Seixal.
Alguns serviços do Hospital Garcia de Orta dão também resposta às populações de toda a Península de Setúbal, nomeadamente nas áreas de especialidade de Neonatologia e Neurocirurgia.
LUSA/HN
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