A Especialidade em Medicina de Urgência (Direito de resposta)

11 de Dezembro 2022

Em resposta ao artigo "A Especialidade em Medicina de Urgência", da responsabilidade do Colégio da Competência em Emergência Médica, recebemos a nota que a seguir publicamos, subscrita pela Sociedade Portuguesa de Medicina de Urgência e Emergência (SPMUE), pela mão da sua presidente, Adelina Pereira:

Artigo em causa: “A Especialidade em Medicina de Urgência”

Exma. Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina interna (SPMI), cara colega:

Como Presidente e em nome da Sociedade Portuguesa de Medicina de Urgência e Emergência (SPMUE) e internista que também sou, quero expressar-lhe uma mensagem de tranquilidade: a Medicina Interna nada tem a recear com a implementação da Especialidade de Medicina de Urgência (MU) em Portugal.
Permita-me apresentar de forma transparente e pela positiva aquilo que defendemos. A Especialidade de Medicina de Urgência está implementada em 82 países e continua a crescer exponencialmente com uma motivação: “criar um mundo onde todas as pessoas, em todos os países, tenham acesso a cuidados médicos de emergência de alta qualidade” (International Federation for Emergency Medicine (IFEM). Também a União Europeia na sua Diretiva 2005/36/CE, define que todos os países europeus devem adotar a Medicina de Urgência como Especialidade. Atualmente 32 países na Europa seguiram este caminho.
Há 20 anos que em Portugal lutamos para seguir as boas práticas em medicina de urgência, á semelhança do que se faz no resto do mundo.
Através do Colégio da Competência em Emergência Médica (CCEM) e da SPMUE fomos discutindo este tema com outros Colégios e Sociedades e recebemos apoios inequívocos da grande maioria (Cirurgia, Ortopedia, Anestesiologia, Cuidados Intensivos, etc).
Se o primeiro foco desta nova “velha” especialidade é o doente, subjacente a este estão outros muito relevantes: o contributo que trás para a gestão de serviços de urgência de norte a sul do pais e regiões autónomas, permitindo a constituição de quadros médicos próprios, com formação de excelência, que irão exercer lado a lado com as demais especialidades já existentes.
Tendo lido com atenção o artigo que vossa excelência publicou permita-me uma reflexão sobre o mesmo.
A Medicina Interna (MI) é nos dias de hoje uma especialidade sobrecarregada e cansada.
O desafio dos últimos anos com a diversificação dos seus campos de ação, levou á dispersão dos nossos especialistas por outras áreas. Os 2 anos de pandemia foram arrasadores. O trabalho nos serviços de urgência (SU) em turnos de 12 e 24 horas e a necessidade de horas extraordinárias de forma recorrente leva á exaustão dos profissionais. Nós somos manifestamente insuficientes para responder a todas as solicitações. Os serviços de MI estão despovoados e esta situação vai piorar tal como o reconhece no seu artigo. Este ano, agravando a tendência dos anos anteriores um número muito preocupante de vagas para a especialidade de MI não foi preenchido. O número de Internistas teima em diminuir de forma dramática comprometendo a muita curto prazo a capacidade de resposta da MI no SU.
A Medicina Interna será uma das grandes beneficiadas com a criação desta especialidade de MU. Esta é uma certeza não uma impressão.
Cara Presidente da SPMI, cara colega, eu sei que sabe que muitos, senão a maioria, dos internistas que exercem nos SU são claramente a favor da Especialidade de MU, e não se revêm de todo nesta posição da SPMI.
Em nenhum momento a criação da especialidade de MU é tão oportuna para a MI como agora. A MI não consegue sozinha, dar resposta aos SU, sendo que na vasta maioria dos serviços de urgência básica nem sequer está presente.
Não é vergonha a MI assumir que precisa de ajuda, antes um sinal de humildade e preocupação com os doentes. A Medicina de urgência pode fazer parte dessa solução.

Reforço a notícia de destaque desta semana da posição tomada, por 56 médicos, diretores e ex-diretores de urgência, colegas nossos, a maioria internistas, exigindo a implementação da Especialidade de MU.
É claro o posicionamento que a Sociedade Civil, o Parlamento e o Governo têm tomado nesta matéria no alinhamento de apoio à criação desta especialidade.
A SPMUE está convicta que este caminho que propomos para Portugal vai trazer fortes benefícios para os doentes e ajudar a salvar mais vidas.

Adelina Pereira
Assistente Hospitalar Graduada de Medicina Interna
Sócia da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna
Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Urgência e Emergência

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