Quase metade dos adolescentes usa a net para fugir a sentimentos negativos

14 de Dezembro 2022

Quase metade dos adolescentes usa a internet para fugir de sentimentos negativos e um em cada três já tentou, mas não conseguiu, estar menos tempo nas redes sociais, indica um estudo que será hoje divulgado.

Segundo o estudo HBSC/OMS (Health Behaviour in School-aged Children), feito em colaboração com Organização Mundial de Saúde e que em 2022 abrangeu 51 países, entre os quais Portugal, 47,6% dos adolescentes portugueses diz que usa a internet para fugir a de sentimentos negativos e 23,9% diz que regularmente não consegue o pensar em nada para além do momento em que poderá usar as redes sociais.

Em relação ao tempo gasto em frente ao ecrã, cerca de 43% dos jovens compartilha ou consulta conteúdo do TikTok, cerca de 39% diz trocar mensagens no WhatsApp e cerca de 37% usa o Instagram duas ou mais horas por dia durante a semana.

Já durante o fim de semana, quase metade (45%) dos jovens diz assistir a séries ‘online’, cerca de 43% usa o TikTok e joga jogos ‘online’ ou ‘offline’ (40%) duas ou mais horas por dia.

O uso do telemóvel por parte dos adolescentes continua elevado, com um aumento dos jovens que diz usá-lo várias horas por dia (passou de 56,6% em 2018 para 64,5% em 2022). Contudo, os investigadores sublinham o aumento da percentagem de jovens que refere que no seu tempo livre pensa na vida, várias horas por dia (de 33,7% para 38,9%).

“Não podemos dizer que o facto de o uso das novas tecnologias ter aumentado é negativo por si só, porque é natural, as novas tecnologias fazem parte cada vez mais da nossa vida e da vida dos jovens e o que temos de fazer é juntar-nos a eles e fazer com que estes comportamentos sejam saudáveis”, disse à Lusa a coordenadora do estudo, Tânia Gaspar.

A responsável alerta ainda que o problema do uso das novas tecnologias é o facto de “diminuir o uso de competências noutras áreas”.

Os dados mostram igualmente um decréscimo no apoio do grupo de amigos (passou de um valor médio de 21,95 para de 21,70), assim como a qualidade da relação com os amigos (de 8,54 para 8,17).

No sentido inverso, o contacto ‘online’ aumentou (de 60,8% para 62,4%) com os amigos chegados, com outras pessoas que não amigos (de 40,7% para 42,3%), com amigos de um grupo mais alargado (de 38,7% para 39,2%) e com amigos que conheceram ‘online’ (de 18,4% para 20,6%).

A utilização da internet para fugir a sentimentos negativos aumentou bastante nos jovens portugueses (de 28,6% para 47,6%), assim como os alunos que referem que já tentaram passar menos tempo nas redes sociais e não conseguiram (passou de 26% em 2018 para 32,2% em 2022).

Em declarações à Lusa, Fábio Botelho Guedes, da equipa portuguesa do HBSC/OMS e Aventura Social/ISAMB/Universidade de Lisboa, aponta alguns “desafios”, como a importância de trabalhar com os jovens a dificuldade que sentiram em usar menos as redes sociais.

“Temos de olhar para estes dados e trabalhar isto com eles e encontrar alguns planos ou estratégias para tentar que eles usem menos as redes sociais”, afirmou o investigador, acrescentando que os jovens, quando confrontados com estes resultados, sugeriram, a nível escolar, mais trabalhos de campo, “que não os obrigassem a estar tão ligados ao computador”.

Relativamente ao tempo gasto em frente ao ecrã durante a semana, os hábitos dos adolescentes alteraram-se, com o Instagram e o YouTube a perderem terreno para o TikTok e WhatsApp.

Os dados indicam que os adolescentes portugueses assistem a menos conteúdos Instagram (passou de 40,5% para 37,1%) e a vídeos do Youtube (39,2% para 32,7%) e passam mais tempo a consultar conteúdos no TikTok (43,1%) e/ou a trocar mensagens no Whatsapp (38,8%).

O estudo mostrou ainda que o tempo excessivo passado nas redes sociais continua a ser o principal motivo (69%) das discussões com a família, amigos ou namorado(a). Os outros dois são o tempo excessivo a não fazer nada/’preguiçar’ (68,3%) ou a ‘surfar’ na internet (59,1%).

Questionado sobre como se consegue equilibrar este uso das redes sociais, o investigador responde: “Vai passar por toda a estrutura (…), desde a escola à família, incentivando-os a estar mais com os amigos presencialmente e não tanto ‘online’”.

“E as famílias aqui vão ter um papel muito importante para pensarmos como ajudá-los a promover mais atividades em família que não envolvam as tecnologias (…) e tentar aproveitar alguns momentos em ‘off’”, acrescentou.

Em Portugal, o primeiro destes estudos foi aplicado em 1998 e o último tinha sido em 2018. O estudo, que entre 1998 e 2019 foi coordenado pela psicóloga Margarida Gaspar de Matos, integrou este ano cerca de 6.000 questionários, em 40 agrupamentos de escolas do ensino regular (Portugal continental), num total de 452 turmas. As respostas são de alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos de escolaridade.

LUSA/HN

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