Este não é o cenário central, mas é admitido como possível por todos os economistas consultados pela Lusa, que alertam para o impacto dos desenvolvimentos internacionais, nomeadamente a evolução da guerra e uma recessão nos principais parceiros comerciais do país.
“É improvável que o nosso país consiga escapar de uma recessão que se espera na generalidade dos nossos principais parceiros comerciais. O lado mais favorável é que esta recessão poderá ser pouco profunda e relativamente curta – talvez apenas dois trimestres”, antecipa Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade.
O economista sublinha: “A incerteza é elevada e podemos sempre ter surpresas muito negativas, quer da guerra quer da pandemia”. Por isso, a instituição mantém a previsão de evolução do Produto Interno Bruto (PIB) português entre -2% e 1% em 2023.
Na mesma linha, Pedro Brinca, professor da Nova School of Businesse (SBE), admite que dado o contexto internacional, particularmente da zona euro, uma recessão é possível, ainda que esse não seja o cenário central, até porque Portugal cresceu acima da média da zona euro em 2022.
“É importante lembrar que estamos a falar de crescimento bastante anémico em que algumas décimas poderão fazer a diferença entre uma recessão ou não, entre crescer acima ou abaixo da média dos países da zona euro”, aponta.
Para o economista, “a incerteza é tão grande que a única certeza que existe para já é que o abrandamento [do crescimento económico] será substancial”.
Uma previsão partilhada por Pedro Bação, professor na Universidade de Coimbra, a quem “parece provável que pelo menos a primeira metade de 2023 seja caracterizada por uma redução da taxa de crescimento, com consequências negativas em termos da taxa de desemprego e, mais genericamente, do bem-estar da população”.
Ainda assim, acredita que a segunda metade de 2023 já poderá ser de retoma do ritmo de crescimento e de recuperação do emprego.
Por sua vez, para João Borges de Assunção, coordenador do Católica-Lisbon Forecasting Lab, o teste será o último trimestre deste ano.
“O ano de 2022 está a terminar muito fraco. O nosso teste é se a economia portuguesa se mantém acima do quarto trimestre de 2019 e o desemprego não sobe muito. A economia tem oscilado muito trimestralmente no período pós pandemia, pelo que podem ocorrer trimestres com variações em cadeia negativas sem que isso se traduza necessariamente numa deterioração do emprego”, explica.
No cenário central o Católica-Lisbon Forecasting Lab prevê uma variação anual do PIB marginalmente positiva, entre uma contração de 1% ou um crescimento de 2%, centrado em 0,5%.
“O comércio externo pode continuar a contribuir positivamente, mas o investimento deverá ser fraco no próximo ano, refletindo os efeitos adversos da subida das taxas de juro e da inflação”, justifica.
Apontando as mesmas condicionantes do investimento, Pedro Braz Teixeira considera que “o que poderia ajudar seria o investimento público e a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)”, dois elementos dos quais, diz, o Governo não se tem conseguido aproximar “minimamente das metas, pelo que é muito difícil de crer que poderá consegui-lo em 2023”.
No que toca às exportações, o diretor do gabinete de estudos do Fórum destaca o impacto do abrandamento global, sobretudo na Europa, pelo que acredita que em 2023 haverá uma “provável nova perda de poder de compra dos consumidores”, bem como um recuo do emprego, levando à “forte moderação do consumo privado”.
É neste enquadramento que Pedro Brinca acredita que “a economia portuguesa passará de um ano em crise social para um ano em crise generalizada.
“Com o fim de um efeito base que sustentou o crescimento de 2022, com a subida das taxas de juro e progressiva deterioração das condições económicas das famílias e com o forte abrandamento da procura externa e interna, será um ano que seguramente não deixará saudades”, antecipa.
Para Pedro Bação, “podemos estar no limiar de uma época de grande transformação da economia e do quotidiano, e talvez em 2023 comecem a aparecer os primeiros sinais disso”, com investimentos relativamente significativos dirigidos para a área da ciência, da energia, mas também da medicina e da inteligência artificial.
Ou, considera, “a situação político-militar na Europa e na Ásia” agravar-se e “o risco existencial passe a ser opressivamente dominante”, já que “o mais provável parece ser chegar-se a um impasse na guerra, que manterá a pressão sobre o mercado da energia e incentivará a continuação da adoção de medidas para acelerar a transição energética”.
“Neste cenário, a economia portuguesa poderá sofrer o tal abrandamento, ou mesmo recessão, em 2023, mas, essencialmente, terá de se continuar a ajustar a uma nova realidade em que o custo de vida é claramente mais elevado do que era há um ano”, antecipa.
LUSA/HN
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