Falta de medicamentos preocupa especialistas, ANF reforça papel dos farmacêuticos

11 de Fevereiro 2023

A escassez de medicamentos foi um dos temas quentes da sessão "Desafios e oportunidades para o setor da saúde" realizada este sábado, no Centro de Congressos de Lisboa. No encontro, os especialistas deixaram várias críticas à falta de investimento na produção de medicamentos, apontando os farmacêuticos como uma peça fundamental a não ser "desperdiçada" no 'puzzle' da gestão de medicamentos. 

O debate surgiu no âmbito do 14º Congresso Nacional das Farmácias e contou com a participação de vários especialistas, entre os quais o Presidente da Direção da Associação Portuguesa da Industria Farmacêutica (APIFARMA).

Na sessão, João Almeida Lopes disse lamentar a situação que o país atravessa relativamente à falta de medicamentos, pois para além de criar “angústia nos doentes”,  cria dificuldades na atividade clínica dos profissionais de saúde.

Segundo o especialista, trata-se de uma “matéria muito complexa” originada pela “desindustrialização que a Europa tem vindo a permitir ao longo dos anos”. Aos olhos de Almeida Lopes a regulamentação “excessiva” tem criado problemas acrescidos para

para quem fabrica medicamentos no espaço europeu.

“A Europa deixou-se embarcar na ‘super globalização’ e depois quando acontece algum problema fica tudo paralisado. Hoje em dia, para quem fabrica medicamentos é um pesadelo assistir à falta de um princípio ativo… Isto implica pedir várias autorizações, já que é uma área muito regulamentada”, lamentou.

Sobre o investimentos feito nos diferentes Orçamentos de Estado a nível da despesa de medicamentos, o dirigente da APIFARMA apontou algumas críticas.

“O preço dos medicamentos tem vindo a ser esmagado… O que é algo muito curioso porque quando olhamos para o investimento na despesa de medicamentou, que em 2010 representavam 14% do total do investimento em saúde, hoje em dia este parâmetro representa menos de 1%. Ou seja, o peso total do medicamento na despesa total em saúde tem vindo a decrescer sistematicamente”, afirmou.

Sobre o papel que as farmácias podem ter na gestão da falta de medicamentos, João Almeida Lopes afirmou ser “muito importante”, em especial “nas “regiões mais recônditas do país”.

Sobre o assunto, Paulo Fernandes da Direção da Associação Nacional de Farmácias começou por esclarecer que a falta de medicamentos é um “problema internacional” que não afeta unicamente Portugal.

“Este problema tem a ver com as cadeias de abastecimento e com a deslocalização das fábricas para países asiáticos. Portanto, não se vai resolver de um momento para o outro”, alertou.

Apesar de reconhecer a dificuldade de implementar soluções com efeitos imediatos, Paulo Fernandes sublinhou que as farmácias têm proposto à tutela algumas mudanças. “Muitas vezes podemos ter um medicamento em que apenas há disponível dosagens diferentes, mas que fazem o mesmo efeito e que têm a mesma adesão terapêutica”, exemplificou.

A possibilidade levantada pelo Ministério da Saúde sobre um alargamento das funções dos farmacêuticos comunitários foi um outro assunto que marcou o debate.

Para Paulo Fernandes, renovação terapêutica e a dispensa de medicamentos em proximidade é um vista como uma aposta “muito positiva” que pode representar profundos ganhos em saúde.

Questionado sobre quem irá assumir o custo do papel mais ativo da farmácias, o membro da Direção da ANF apontou que deverá ser da responsabilidade do Estado.

“Este trabalho que as farmácias vão fazer vai ter que ter um pagamento justo e adequado… Obviamente que o principal financiador será o Estado, até porque vai ter poupanças nos hospitais e nos Cuidados de Saúde Primários”.

Na sexta-feira o ministro da Saúde reforçou o compromisso do Governo em ver implementadas estas medidas ainda este ano.

HN/Vaishaly Camões

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