Centenas de milhar manifestam-se em Madrid em “defesa da saúde pública”

12 de Fevereiro 2023

Centenas de milhar de pessoas manifestaram-se este domingo em Madrid em "defesa da saúde pública" nesta região autónoma de Espanha, que dizem ser aquela em que há menos investimento nesta área, embora seja das que tem mais recursos orçamentais.

No protesto estiveram cerca de 250 mil pessoas, segundo as autoridades, mas os organizadores estimam em perto de um milhão os manifestantes que se concentraram no centro de Madrid, a capital de uma região autónoma governada pelo Partido Popular (PP, direita).

A manifestação foi convocada por uma plataforma de 74 associações e movimentos da sociedade civil e recebeu o apoio de sindicatos e de partidos de esquerda, tendo até participado no protesto uma ministra do Governo espanhol, Reyes Maroto, que tem a pasta do Turismo no executivo nacional e já anunciou que será a candidata do Partido Socialista (PSOE) nas eleições regionais do próximo dia 28 de maio.

Espanha é um país totalmente regionalizado e a saúde é uma competência dos governos regionais.

A manifestação foi convocada após meses de protestos e de uma greve dos médicos de família e pediatras dos centros de saúde de Madrid contra as condições laborais e um plano de reorganização das urgências não hospitalares e dos próprios centros de saúde anunciado pelo governo regional.

Profissionais de saúde e utentes queixam-se, entre outras coisas, das listas de espera, do aumento do tempo de espera dos doentes nos serviços de urgência, da sobrecarga de trabalho dos médicos e enfermeiros e do desinvestimento em contratações de mais pessoal, quando deveria haver um reforço para responder às necessidades da população.

Os protestos e a greve ocorrem em meio de negociações com os sindicatos que representam os médicos e a presidente do governo regional, Isabel Díaz Ayuso, tem dito estarem em causa protestos manipulados por partidos e “uma greve política”.

A manifestação de hoje terminou na praça de Cibeles, depois de quatro colunas com milhares de pessoas terem percorrido quatro dos grandes eixos da cidade, desde o norte, o sul, o este e o oeste, com o objetivo de simbolizar a generalização do descontentamento por toda a região.

Num manifesto lido no final do protesto, os organizadores disseram que “a política de saúde da Comunidade de Madrid está orientada para garantir os lucros das empresas e dos lóbis da saúde, em vez de estar focada no cuidado de todas as pessoas e de garantir o direito à saúde”.

Segundo o mesmo texto, têm aumentado nos últimos meses os lugares vagos de quadro nos serviços de saúde, sem substituição de médicos e enfermeiros que saem, e foram “dinamitadas” as urgências não hospitalares, criando um “autêntico caos” em toda a região, com decisões como a de manter centros de atendimento urgente sem qualquer médico.

Além das urgências, os manifestantes pedem médico de família e um enfermeiro para toda a população, assim como que cada criança tenha o seu pediatra no serviço público.

O manifesto denuncia também que o governo regional não avança com a construção de centros de saúde prometidos, ao mesmo que tempo que não há obras nos que “estão a cair aos bocados”, com os organizadores da manifestação a sublinharem que não é de agora que há protestos locais.

“Madrid é seguramente o exemplo mais extremo de desinvestimento na saúde pública. Madrid é a Comunidade [região autónoma] que menos gasta em saúde pública por habitante e, ao mesmo tempo, a Comunidade onde cada habitante de Madrid mais tem de gastar em saúde privada”, afirmou Unai Sordo, líder da CCOO, uma das maiores confederações sindicais espanholas, sintetizando uma das acusações mais frequentes ao governo regional de Isabel Díaz Ayuso.

Além de Madrid, houve hoje também manifestações em “defesa da saúde pública”, com reivindicações similares, em outras duas cidades de regiões autónomas espanholas governadas pelo PP: Santiago de Compostela, capital da Galiza, e Burgos, em Castela e Leão.

Em Santiago de Compostela juntaram-se cerca de 15 mil pessoas e em Burgos manifestaram-se cerca de 11 mil, segundo dados das autoridades.

LUSA/HN

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