Investigadores estudam microbiota do trigo para criar novo alimento

20 de Fevereiro 2023

Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) estão a estudar a microbiota do trigo para, através da fermentação deste cereal, criar a um novo alimento que conjugue “saúde e sabor” na mesma receita.

Em comunicado, a faculdade adianta que apesar de fundamental, o trigo é, simultaneamente, visto como “um vilão” por “provocar alterações menos desejáveis no organismo”, como alergias e intolerâncias alimentares.

“Em causa está a composição do trigo, que poderá ser modulada pela microbiota [flora intestinal]”, salienta, esclarecendo que, no âmbito do projeto europeu Wheatbiome, os investigadores vão debruçar-se sobre a microbiota para “chegar a um novo alimento”, tendo por base a fermentação do trigo.

Numa primeira fase, a equipa vai estudar a microbiota do trigo no solo e na planta para tentar perceber como é que é afetada a imunogenicidade [capacidade de desencadear uma resposta imunitária no organismo] e a qualidade nutricional deste cereal.

Citada no comunicado, a investigadora e co-coordenadora do projeto, Rosa Perez-Gregório, esclarece que as expressões de proteínas numa planta podem “depender da cultura, da variedade de trigo e de onde é produzido”.

“A mesma variedade de trigo produzida em locais diferentes, por exemplo, em Portugal e na Holanda, pode ter indicares de qualidade nutricional e quantidade de proteína imunogénica diferentes. O que queremos avaliar é como a microbiota e a interação da microbiota do solo e da planta poderá modular este processo”, exemplifica a investigadora da Rede de Química e Tecnologia (REQUIMTE) na FCUP.

Também citada no comunicado, a investigadora Susana Soares afirma que depois de caracterizada, a equipa pode usar a “microbiota da planta inteira ou partes dela para criar um novo alimento”.

Destacando que o trigo é “uma das culturas mais sustentáveis que existe”, as investigadoras afirmam poder vir a “torná-lo ainda mais sustentável”.

Além de tornar este cereal mais sustentável, outro dos objetivos do projeto é usar a microbiota para regular as práticas agrícolas, passando esse conhecimento para os agricultores e outras entidades envolvidas na cadeia de produção do trigo.

“Se soubermos quais são as melhores condições bióticas e abióticas que afetam a microbiota e a qualidade do trigo, podemos tentar que o trigo seja cultivado noutros países da Europa, o que ajuda a reduzir a dependência da Ucrânia fomentando a agricultura local e mais sustentável”, acrescentam as investigadoras.

Paralelamente, o projeto visa também reintroduzir o subproduto do novo alimento na cadeia alimentar, como na ração para os animais.

No decorrer do projeto vão ser realizados estudos ‘in vitro’ para perceber quais as melhores condições de cultivo e as melhores variedades a apostar, sendo que posteriormente está prevista uma pré-seleção dos produtos que passam à fase ‘in vivo’.

Além do solo e da planta, a microbiota humana também vai ser estudada.

“Queremos ver como as bactérias que estão dentro desse alimento interagem com o nosso organismo e com a nossa própria microbiota”, explica a investigadora Rosa Perez-Gregório.

O projeto Wheatbiome é financiado em mais de cinco milhões de euros pela Comissão Europeia e vai desenvolver-se nos próximos quatro anos.

Além do REQUIMTE da FCUP e do GreenUPorto, integram o projeto a NOVA Medical School e 13 entidades europeias de países como a Espanha, Lituânia, Holanda, Polónia e Hungria.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights