Ana Rita Cavaco visitou hoje este serviço do hospital de Almada na sequência do pedido de escusa de responsabilidade da equipa de enfermagem, “devido à situação em que o serviço se encontra, com défice grave de recursos humanos, com a totalidade do serviço ocupado e doentes em maca nos corredores”.
Em declarações à agência Lusa no final da visita, a bastonária fez um “balanço mau” do que observou no serviço, mas também do cansaço da equipa, que está “muitíssimo desmotivada” e que tinha “estampado no rosto” tristeza e desmotivação.
Segundo Ana Rita Cavaco, este serviço, com 31 camas, “tem doentes muito dependentes, com várias doenças associadas” que precisam de “muitas horas de cuidados de enfermagem”.
“Era um serviço, e por isso é que quis vir cá, que tinha camas encerradas precisamente por falta de enfermeiros”, disse, adiantando que a equipa é composta por 24 enfermeiros, muitos dos quais mulheres em horário reduzido por estarem a amamentar.
A bastonária disse que “era expectável” que, para abrir as 31 camas, tivessem entrado mais enfermeiros para a equipa, mas tal não aconteceu.
“Foram abertas as 31 camas, foram colocados doentes em maca, foram colocados doentes em maca em outros serviços de medicina, também na ortopedia, e este hospital, como todos os outros, tem um plano de contingência para estas situações em que há mais doentes internados e esse plano de contingência não está a ser cumprido”, criticou.
Este plano, acrescentou, “prevê, por exemplo, uma redução da atividade cirúrgica e isso não aconteceu e deparámo-nos com uma situação neste serviço de um doente em maca que foi, inclusive, colocado pela diretora de Serviço numa arrecadação.
“Eu tirei uma fotografia à arrecadação, o doente já lá não está, mas de facto, isto é uma indignidade que não pode em 2023 ser permitida no Serviço Nacional de Saúde”, censurou.
Para a bastonária dos enfermeiros “não há neste hospital uma estratégia de retenção de enfermeiros que tem que haver no país como um todo”.
“Eu não posso continuar a ter camas livres noutros serviços e por uma opção de gestão colocar macas em determinados serviços e não ocupar essas camas que existem livres porque os diretores desses serviços não querem. De uma vez por todas, os serviços, os hospitais, os centros de saúde são das pessoas, não são dos médicos, nem dos enfermeiros, nem de nenhum profissional de saúde”, afirmou.
Ana Rita Cavaco disse que não se reuniu com o Conselho de Administração (CA) do hospital, preferindo expor a situação por escrito.
Contactado na segunda-feira pela Lusa, o hospital esclareceu que a utilização de macas nos internamentos dos vários serviços resulta de “situações excecionais”, definidas no seu Plano de Contingência.
“Estas situações ocorrem apenas quando o número de doentes no Serviço de Urgência Geral exceder os 55, altura em que se procede à transferência de, no máximo, dois doentes em maca por Serviço de Internamento, e durante o menor período de tempo possível”, explicou.
O CA sublinha ainda que “mantém o diálogo permanente com todos os colaboradores, podendo desde já garantir que fará o possível para assegurar as melhores condições de trabalho a todos os profissionais”.
LUSA/HN
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