Trocar cigarro por cigarro eletrónico ou tabaco aquecido não é estratégia segura

15 de Abril 2023

A Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) alertam com preocupação que a decisão do ministro da Saúde da Inglaterra, Neil O’Brien, de distribuir kits gratuitos de cigarro eletrónico não é uma estratégia de saúde pública comprovada, nem segura.

Para a SPP e SBPT, a posição das autoridades de saúde inglesas não segue as boas práticas da Medicina baseada na evidência científica e na ética médica “primum non nocere”, ou seja, “primeiro não prejudicar”. Não segue, também, o princípio de precaução de saúde pública, já que existe farta documentação científica dos prejuízos para a saúde causados por estes produtos. Mesmo no Reino Unido, as autoridades de saúde da Escócia, por exemplo, já emitiram um comunicado dizendo que não apoiam esta iniciativa e que não há planos para adotá-la na Escócia.

Os cigarros eletrónicos não são nem dispositivos médicos nem medicamentos, são produtos de consumo banidos em mais de 40 países, que fornecem, além da nicotina inalada, outras quase duas mil substâncias. Já foram identificadas substâncias tóxicas e irritantes para os sistemas respiratório, cardiovascular e imunológico e até carcinogénicas, muitas delas não especificadas pelos fabricantes. “Esses aparelhos também oferecem perigos específicos, como o vazamento de metais pesados no filamento aquecido, aumentando o risco de cancro, síndrome respiratória aguda e explosão do dispositivo, por exemplo. Portanto, não existe o uso ‘terapêutico’ alardeado pela indústria e pelo governo britânico”, ressalta o pneumologista Paulo Corrêa, coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da SBPT.  “Como esses dispositivos fornecem nicotina, que causa grande dependência, e outros produtos tóxicos, os utilizadores acabam por persistir no uso prolongado, podendo sofrer os efeitos negativos na saúde e adoecer”, complementa Sofia Ravara, coordenadora da Comissão de Tabagismo da SPP.

Diversos estudos epidemiológicos em diferentes países, desde a América do Norte e do Sul até à Europa e Ásia, têm mostrado uma experimentação e consumo crescentes na população, sobretudo nos adolescentes e adultos jovens. Na Europa, os inquéritos do Eurobarómetro revelam uma tendência decrescente da cessação assistida pelos cuidados de saúde, enquanto parar de fumar sem assistência médica ou usando os cigarros eletrónicos tem crescido.

“A ciência já comprovou que os cigarros eletrónicos não ajudam quem está a tentar parar de fumar a fazê-lo. Na revisão sistemática e meta-análise ‘E-cigarettes and smoking cessation in real-world and clinical settings’, publicada por Kalkhoran e Glantz na revista científica The Lancet Respiratory Medicine, as pessoas que tentaram parar de fumar cigarro convencional utilizando cigarros eletrónicos tiveram 28% menos chance de sucesso do que os que não utilizaram esses dispositivos eletrónicos para fumar”, explica o pneumologista Paulo Corrêa. Segundo o especialista, muitos estudos que supostamente comprovam que esses dispositivos ajudam a parar de fumar têm conflitos de interesse, além de problemas de metodologia e execução.

“Não existe cigarro bonzinho, cigarro eletrónico é cigarro!”, alerta ainda Paulo Corrêa.

Se nunca tiver fumado cigarros tradicionais, não inicie o uso de produtos de tabaco aquecido, nem de cigarros eletrónicos. Se está a utilizar um ou mais desses produtos, saiba que o processo de parar de os usar é a melhor ação que poderá fazer pela sua saúde, agora e no futuro.

PR/HN/RA

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