“Somos forçados a suspender temporariamente as nossas operações no Sudão enquanto analisamos a evolução da situação de segurança”, disse Cindy McCain, diretora do PAM, em comunicado.
Três trabalhadores humanitários do PAM foram mortos nos combates que se travam no Sudão desde sábado entre as Forças de Apoio Rápido (RSF na sigla em inglês), do general Mohamed Hamdane Daglo, conhecido como “Hemedti”, e o exército regular, anunciou hoje o enviado das Nações Unidas neste país do nordeste africano.
Os funcionários foram mortos no sábado quando trabalhavam no norte de Darfur, no oeste perto do Chade, que fechou sua fronteira com o Sudão por causa da violência, disse Volker Perthes em comunicado à imprensa, acrescentando que “edifícios humanitários foram atingidos e outros saqueados naquela região, reduto histórico da RSF.
O PAM especifica, por sua vez, que um dos aviões utilizados nas suas operações também foi danificado no sábado no aeroporto internacional de Cartum.
“O PAM está empenhado em ajudar a população sudanesa que enfrenta uma terrível insegurança alimentar, mas não podemos fazer o nosso trabalho, que salva vidas, se não for garantida a segurança das nossas equipas e parceiros”, afirmou Cindy McCain.
“Qualquer perda de vida no exercício humanitário é inaceitável e peço ação imediata para garantir a segurança dos que ainda estão presentes”, continuou.
“Os trabalhadores humanitários são neutros e nunca devem ser alvos. Ameaçar as nossas equipas torna impossível trabalhar em segurança”, disse ainda Cindy McCain, pedindo às partes em conflito que cheguem a um acordo que permita a reabertura das operações.
Os paramilitares das RSF envolveram-se em combates com o exército sudanês no sábado de manhã, em Cartum, mas a violência alastrou-se a outras zonas do país.
Os combates, que prosseguiram hoje de manhã, provocaram a morte de 56 civis em 24 horas, segundo um balanço citado pela agência norte-americana AP.
Uma rede de médicos do Sudão disse que há dezenas de mortes adicionais entre as forças rivais, e cerca de 600 feridos, incluindo civis e combatentes.
Combates intensos envolvendo veículos blindados, metralhadoras montadas em camiões e aviões de guerra continuaram hoje em Cartum, na cidade vizinha de Omdurman e noutros pontos do país, segundo a AP.
Os confrontos fazem parte de uma luta pelo poder entre o general Abdel-Fattah Burhan, comandante das forças armadas, e o general Mohammed Hamdan Dagalo, chefe das RSF.
Os dois generais são antigos aliados que orquestraram o golpe militar de outubro de 2021, que interrompeu a transição de curta duração do Sudão para a democracia.
Nos últimos meses, negociações apoiadas internacionalmente reavivaram as esperanças de uma transição ordeira para a democracia.
Contudo, as tensões crescentes entre Burhan e Dagalo acabaram por atrasar um acordo com os partidos políticos.
Em Cartum e Omdurman, foram noticiados hoje combates em torno do quartel-general militar, do Aeroporto Internacional de Cartum e da sede da televisão estatal, segundo a AP.
“As batalhas não pararam”, disse o defensor dos direitos humanos Tahani Abass, que vive perto do quartel-general militar, citado pela AP.
“Eles estão a disparar uns contra os outros nas ruas. É uma guerra total em zonas residenciais, acrescentou.
Tanto os militares como as RSF afirmaram controlar locais estratégicos em Cartum e noutras áreas, mas estas reivindicações não puderam ainda ser verificadas de forma independente.
O Sudão, com mais de 49 milhões de habitantes, situa-se junto ao Mar Vermelho, que separa o país da Arábia Saudita.
Tem fronteiras terrestres com Egito, Eritreia, Líbia, Chade, República Centro-Africana e Sudão do Sul.
NE/HN/Lusa
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