“Com toda a franqueza, é um problema sério, porque se trata de um [ex-]presidente da República, mas é um problema menor em relação a tudo o que pode acontecer”, disse Temer à agência Lusa, ao ser questionado sobre a investigação levada a cabo pela Polícia brasileira.
“Isto é fruto de uma investigação. Se você tem a indicação de um eventual delito, você investiga. O que não se pode fazer é pré-condenar. Que haja uma investigação e que o ex-presidente esclareça aquilo que deva esclarecer”, defendeu o antigo mandatário (2016–2018) em Nova Iorque, à margem do LIDE, um fórum de investimentos do Brasil nos Estados Unidos da América.
Jair Bolsonaro, alvo de uma operação policial por suposta fraude com certificados de vacinação contra a Covid-19, negou essa possibilidade e reiterou que não foi vacinado contra o coronavírus SARS-CoV-2.
“Nunca me pediram o certificado de vacinação em lugar nenhum e não há adulteração da minha parte. Eu não tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso”, disse Bolsonaro na semana passada a repórteres em frente à sua residência em Brasília, após o local ter sido alvo de buscas da Polícia Federal.
“Não tomei a vacina e foi uma decisão minha”, insistiu Bolsonaro, que durante o mandato (2019-2022) foi um dos líderes mundiais que mais negou a gravidade da pandemia e até manteve campanhas permanentes e duras contra a vacinação.
O líder da extrema-direita brasileira sustentou que a sua filha Laura, de 12 anos, também não tomou a vacina e destacou que apenas a sua mulher, Michelle Bolsonaro, foi vacinada em setembro de 2021 nos Estados Unidos, quando o acompanhou à reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Bolsonaro disse ter ficado surpreendido com a operação policial, no âmbito da qual foi apreendido o seu telemóvel e foram detidos seis dos seus colaboradores mais próximos, que o acompanham desde que esteve no Governo.
Segundo a Polícia Federal, suspeita-se que os dados de vacinação do ex-presidente, de vários dos seus familiares e assessores teriam sido manipulados para conseguirem entrar nos Estados Unidos numa época em que os certificados de vacinação eram exigidos pelas autoridades daquele país.
Os dados teriam sido manipulados diretamente nos sistemas do Ministério da Saúde, através de acessos ilegais realizados por duas vezes: em novembro de 2021 e dezembro de 2022.
Neste último caso, teria sido antes de Bolsonaro – ainda na condição de Presidente – viajar para os Estados Unidos no dia 30 de dezembro, dois dias antes da posse do atual chefe de Estado, Luiz Inácio Lula da Silva, a quem recusou entregar a faixa presidencial.
Embora, desde 2021, todos os viajantes que se deslocassem aos Estados Unidos por via aérea tivessem que comprovar ter tomado pelo menos duas doses de imunizante pelo menos 15 dias antes do embarque, o ‘Center for Disease Control and Prevention (CDC)’ prevê uma lista de exceções.
Entre os cidadãos abrangidos pelas exceções norte-americanas estão “pessoas em viagens diplomáticas ou oficiais de Governos estrangeiros”, como seria o caso de Bolsonaro. Por ser menor de 18 anos, a filha do ex-presidente, Laura, também se incluiria numa exceção prevista pelo CDC.
Fontes ligadas à investigação afirmaram à rede Globo que o ex-presidente queria uma garantia de que não seria barrado ao tentar entrar nos Estados Unidos por não estar vacinado, uma vez que não estava em viagem oficial de Estado.
Enquanto estava no Governo, Bolsonaro negou a gravidade da pandemia, que provocou mais de 700 mil mortes e quase 38 milhões de infeções no país.
O ex-presidente havia sido intimado pela Polícia Federal para depor na semana passada, após as buscas na sua residência, mas os seus advogados conseguiram um adiamento, alegando que ainda não tiveram acesso ao processo.
Bolsonaro responde numa dezena de processos perante tribunais de primeira instância por questões relacionadas com supostos abusos de poder político e económico, bem como em cinco processos no Supremo Tribunal Federal, e em outros que tramitam na Justiça eleitoral.
LUSA/HN
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