Lúcio Meneses de Almeida Médico Assistente Graduado de Saúde Pública Presidente do Conselho Nacional de Ecologia e Promoção da Saúde da Ordem dos Médicos

SNS: crónica de um desastre anunciado

05/19/2023

Desde há algum tempo que venho escrevendo sobre a ausência de rumo do SNS. E, em particular, da reforma em curso.

Assistimos a uma sucessão de medidas espúrias, descoordenadas e primariamente reativas, sem vislumbre de um curso de ação previamente definido. E, também, a uma indisfarçável descoordenação entre a tutela política e o seu braço executivo junto do SNS.

Quando da sessão de encerramento dos “Estados Gerais do SNS” – promovidos pela Fundação para a Saúde-SNS e realizados no passado dia 12 de maio, em Coimbra -, a Senhora Secretária de Estado da Promoção da Saúde equiparou o processo reformista em curso a uma gravidez: há que aguardar pacientemente pelo parto, para saber a cor do cabelo do recém-nascido…

Contextualizou a sua analogia obstétrica na inquirição, por parte de um dirigente associativo profissional da área, quanto ao pretendido para os serviços de saúde pública. Entenda-se, para os serviços do SNS que têm como missão a defesa da saúde da população portuguesa.

Qualquer graduado em Saúde Pública sabe que uma reforma tem de ser planeada. Tratando-se de uma reforma do SNS, a “casa” de todos nós, vai impactar, no imediato, os cuidados prestados à população portuguesa e, no mediato, o seu estado de saúde.

Ora, o planeamento assenta na antecipação daquilo que pretendemos alcançar (objetivos) e da forma como o fazemos (estratégia). Caso contrário, estamos perante o improviso…

Expressar, de forma tão eloquente, a ausência de planeamento é afirmar a indigência governativa da Saúde. É assumir a “navegação à vista” de um setor crítico ao bem-estar da população portuguesa – e, em concreto, de um instrumento primordial aos ganhos em saúde: o SNS.

Assegurar a generalidade dos cuidados implica a satisfação da totalidade das necessidades médicas e em saúde. Dificilmente podemos falar em “Serviço Nacional de Saúde” quando cada vez mais portugueses são obrigados a pagar do seu bolso os cuidados que não lhes são prestados em tempo útil.

“Transformar o SNS” foi o mote da referida iniciativa. Face à sua situação presente e perspetivas futuras, deveria ter sido, antes, o seu resgate…

Não é com políticas de improviso, alienadas da realidade e dos profissionais de saúde, que será possível evitar o desastre anunciado.

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Morreu José Luís Pio Abreu, figura maior da Psiquiatria em Portugal

A HealthNews lamenta profundamente o falecimento do Professor Doutor José Luís Pio Abreu, uma das mais marcantes figuras da Psiquiatria portuguesa. Médico, professor, pensador e autor, Pio Abreu deixa um legado notável de conhecimento, reflexão e humanidade. Tinha 81 anos.

Obra de 2,8 ME no Centro de Saúde de Valença concluída em 2026

A reabilitação e ampliação do Centro de Saúde de Valença por mais de 2,8 milhões de euros arrancou na terça-feira e deve ficar concluída daqui a um ano, revelou hoje a autarquia. O investimento é financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o prazo de execução é de 365 dias, disse, em comunicado, aquela autarquia do distrito de Viana do Castelo.

Médio Oriente: Hamas pede para população se afastar de “armadilhas mortais”

O grupo islamita palestiniano Hamas pediu hoje à população da Faixa de Gaza para se afastar de pontos de entrega de ajuda humanitárias que considera “armadilhas mortais”. Segundo o Hamas, os pontos de distribuição de alimentos e de ajuda humanitária de emergência têm sido alvo de disparos que já provocaram a morte a mais de 300 pessoas nas últimas três semanas.  

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights