“Há uma preocupação crescente em áreas inundadas com a propagação de doenças relacionadas com a água”, disse o Gabinete de Ajuda Humanitária do Health Cluster da Organização Mundial da Saúde em comunicado.
Em causa podem estar situações relacionadas como cólera ou diarreia.
Ainda de acordo com um relatório publicado por este organismo, a maioria dos hospitais e clínicas de Rakhine – estado atingido no domingo pela passagem do ciclone Mocha, que registou ventos de 150 quilómetros por hora – sofreram danos ou estão completamente destruídos.
A escassez de medicamentos e material médico também é premente, assim como de equipamentos de saúde.
“Há uma necessidade urgente de latrinas devido ao aumento do número de pessoas [nos centros de acolhimento]. O acesso à água potável é uma prioridade urgente, juntamente com os serviços de saúde”, afirmou a UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância, também em comunicado.
A junta militar que está no poder desde o golpe de 2021 ainda não permitiu o acesso da ajuda internacional a grande parte das regiões afetadas, embora algumas organizações tenham conseguido começar a distribuir ajuda no âmbito de autorizações prévias.
“Solicitámos acesso para missões de campo coordenadas para distribuir assistência com base nas necessidades observadas, a aguardar aprovações formais”, disse hoje à agência EFE o porta-voz no Sudeste Asiático do Gabinete de Coordenação das Nações Unidas, Pierre Perón.
O responsável sublinhou que “parte da ajuda humanitária começou a chegar a Rakhine” devido às autorizações prévias.
Nos últimos dois dias, o Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU) forneceu assistência alimentar de emergência a cerca de 6.000 deslocados internos, bem como aos que recorreram a abrigos temporários em Sittwe, capital de Rakhine.
“Mas é preciso mais e precisamos de todas as partes para facilitar uma entrega mais ampla de ajuda às pessoas afetadas pelo ciclone”, disse Perón à EFE.
Segundo dados fornecidos pelas Nações Unidas, pelo menos 800.000 pessoas precisam de ajuda urgente devido aos efeitos do ciclone.
As condições são especialmente difíceis nos precários campos de deslocados onde dezenas de milhares de pessoas da etnia muçulmana Rohingya vivem há anos, não reconhecidas pelas autoridades birmanesas e perseguidas pelo exército. O acesso a estes locais é limitado pelos militares.
“Existem riscos reais de que os sobreviventes enfrentem desastres secundários, incluindo doenças transmitidas pela água. E dificuldades no abastecimento de alimentos colocam milhares em risco de fome”, disse a Save the Children, em comunicado.
O regime militar tenta canalizar a ajuda humanitária, como aconteceu em 2008 durante os primeiros dias do ciclone Nargis, considerado o pior desastre natural da história de Myanmar, que deixou mais de 138.000 mortos.
A falta de acesso e a limitação das comunicações tornam impossível indicar o número exato de vítimas.
Dados preliminares – ainda não verificados – do Governo de Unidade Nacional da Birmânia indicam que o ciclone terá causado pelo menos 455 mortes – 431 em Rakhine –, enquanto o conselho reconhece apenas 145 mortes.
LUSA/HN
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