Guiné-Bissau/Eleições: Educação e Saúde são direitos fundamentais mas não funcionam

28 de Maio 2023

Os guineenses voltaram a ouvir falar em desenvolvimento dos setores da saúde e educação com o início da campanha eleitoral para as legislativas, mas a Guiné-Bissau continua a ser um dos países mais pobres do mundo

“Quando se aproximam as eleições há ciclos de promessas que os políticos fazem como forma de angariar mais votos, mas na verdade são declarações que não pretendem concretizar”, disse à Lusa Vitorino Indeque, vice-presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos.

Saúde e Educação são dois direitos humanos, mas na Guiné-Bissau o seu cumprimento está aquém das expetativas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Segundo os dados do último Relatório Nacional Voluntário aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, realizado em 2022, a pobreza atinge 66,6% da população, que ronda dos dois milhões de habitantes, e o PIB per capita não chega aos 500 dólares, situando-se em 494.

No documento salienta-se que há um “declínio persistente no investimento em serviços sociais essenciais, como a saúde e educação, com a pobreza a afetar principalmente as mulheres”.

Os dados indicam que 6% das crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição aguda e que a taxa de desnutrição crónica é de 28% e superior a 30% nas regiões de Oio, Bafatá e Gabu, três regiões bastante disputadas em termos eleitorais, mas com fracos serviços básicos.

A anemia atinge 46% das mulheres e meninas entre os 15 e 49 anos e em 2021 a taxa de mortalidade materna aumentou para 667 por 100.000 devido ao impacto da covid-19, greves gerais registadas na Função Pública e à fragilidade do sistema nacional de saúde.

Ao nível da educação, o cenário não é melhor, mais de 50% das pessoas com mais de 15 anos são analfabetas e apesar de a taxa de frequência escolar ser elevada, a pobreza, insegurança alimentar, trabalho infantil, normas discriminatórias contra meninas, falta de infraestruturas escolares e professores qualificados continuam a ser obstáculos à escolarização.

A cada período eleitoral, as promessas multiplicam-se e são transversais a todos os partidos e, segundo Vitorino Indeque, os políticos “atacam” aqueles dois setores, “porque o povo quer é a intervenção nas áreas sociais”.

“O Estado tem de criar condições para que esses direitos sejam efetivados. Na Guiné-Bissau é ao contrário, são promessas que não vão cumprir. Ninguém pensa na saúde, o sistema está em colapso” e o mesmo se aplica à educação, salientou o ativista dos direitos humanos.

“Se formos ver a nossa sociedade, dizem que a juventude é que é a força motriz, a juventude é que tem força para poder alavancar o desenvolvimento almejado e se qualquer jovem não tem um sistema que lhe vai garantir saúde de qualidade não podemos pensar em nada”, lamentou Vitorino Indeque.

A posição do ativista é reforçada no último relatório do Banco Mundial sobre o país, no qual adverte para “o fraco desempenho do setor da educação”, “uma grande parte da mão-de-obra não qualificada” e “baixos níveis de capital humano” como um “grave desafio para o desenvolvimento económico”.

“A educação pode trazer tremendos benefícios tanto para os indivíduos como para todo o país. A educação contribui diretamente para uma maior produtividade e rendimentos, menos taxas de pobreza, melhores resultados de saúde e maior envolvimento cívico”, salienta o Banco Mundial.

Duas coligações e 20 partidos políticos iniciaram em 13 de maio a campanha eleitoral para as legislativas de 04 de junho na Guiné-Bissau.

A campanha termina em 02 de junho.

NR/HN/Lusa

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